sábado, 30 de abril de 2011

Variação linguística e Ensino de língua


O modo como a língua portuguesa é ensinada nas escolas vem sendo muito discutido nos últimos anos, no entanto, ainda há muito que se fazer.
Alfabetizar a criança que inicia seu processo escolar não é uma tarefa tão simples quanto aparenta ser. A criança antes de entrar na escola aprendeu a falar e a entender a linguagem, sem que essa fosse dividida em aulas; ao contrário, naturalmente ela foi exposta ao mundo linguistico desde o nascimento, participou e aprendeu na fala dos grupos com os quais ela conviveu.
A linguagem por ser um fator social e cultural, torna-se o espelho da comunidade linguística a que está ligada, logo, se cada indivíduo falasse como quisesse, não existiria linguagem da forma como é organizada socialmente, pois a sociedade auxilia no desempenho linguístico de seus membros.
Ao entrar na escola uma criança vinda de uma comunidade falante de um dialeto que não é o padrão, (entende-se língua padrão como símbolo de poder político, econômico e social) sentir-se-á discriminada por não dominar essa linguagem, e o que ela conquistou, o seu conhecimento, é ignorado.
Ao ensinar língua portuguesa para falantes nativos, a escola deve analisar se esse ensino não está de alguma forma subestimando a inteligência do aluno ou somente preocupado em transmitir conceitos e definições, deixando de lado o seu objetivo principal que é mostrar como a linguagem humana funciona, quais são suas propriedades e usos e como a variação linguística influencia no comportamento social do indivíduo.
Há, na escola, a preocupação em se transmitir teoria sem explicar a sua finalidade, busca-se o ensino da língua padrão (modo correto de falar e escrever, segundo as gramáticas normativas), sem considerar a linguagem que foi adquirida pela criança.
Observe-se, também que, a aquisição da linguagem não se refere unicamente à linguagem escrita, mas da fala (que apresenta variedade de dialetos), e de leitura. Logo, a criança que é capaz de revelar enorme capacidade de argumentar, dominando a linguagem oral não deve ser censurada ou tida como incapaz por não dominar tão bem a linguagem falada.
As incongruências ocorridas na linguagem escrita devem ser explicadas de tal forma que o educando entenda que não temos uma única forma de falar, mas que existem outras alternativas e, assim, como não se pode falar ou escrever como bem quiser, pois isso dificultaria a leitura entre as diversidades de dialetos (aqui entende-se dialetos, como modos diferentes de falar).
A variação linguística existente em nossa sociedade não é tratada na escola de maneira justa. Quando o aluno ainda não domina a norma padrão, a variação linguística que esse aluno carrega não é aceita, e é vista como errada a sua forma de expressão verbal e escrita.
Por que não aceitar essa variação como um meio diferente de expressão? Por que não partir do conhecimento que a criança tem de sua fala e da fala de seus colegas para então ensinar a língua padrão?
A escola deve mostrar que o dialeto-padrão é apenas uma das variedades de uma língua, sem excluir as demais formas e que não se precisa de uma gramática normativa (normas que devem ser seguidas), mas de uma gramática descritiva destinada a explicar como é o funcionamento da língua, bem como quais as regras regem seu uso.
Como deve ser então, o ensino de língua? Lembrar que não é a simples transmissão de conteúdos prontos, mas sim como uma tarefa de construção de conhecimento, de transformação e de preparo, para que o aluno compreenda melhor a sociedade em que vive, propiciando não só a aprendizagem do dialeto padrão, mas que entenda o ato de ler e escrever como instrumento para compreensão e construção do significado do mundo.

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