quarta-feira, 30 de novembro de 2011

I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia



I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia 

     Apresentação

O “I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia: o que queremos com o filosofar na Educação Básica?” é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Epistemologia do Educar e Práticas Pedagógicas e do Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC), em parceria com o GT: Filosofar e Ensinar a Filosofar, da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof). É financiado pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC-BA) e pela Coordenação de Apoio de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e tem o apoio institucional da Universidade Federal da Bahia (Ufba), da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba).

O evento foi pensado com o propósito de reunir pesquisadores, estudantes de pós-graduação e graduação, educadores da rede de ensino pública e privada, e outros interessados em discutir problemas em torno do ensino de Filosofia na Educação Básica.
O evento será realizado nos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2011, na Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem) e na Faculdade de Educação da Ufba, em Salvador. Será constituído de conferências, palestras, mesas redondas, oficinas, e mini-cursos, em prol de atender às emergentes demandas que permeiam o ensino de Filosofia na Educação Básica. 

Dessa maneira, será um momento oportuno de interlocução entre a Universidade e a Escola Básica Brasileira, para criar redes de pesquisa e de conhecimentos a fim de proporcionar possibilidades para novas discussões metodológicas no âmbito do ensino de Filosofia no país, principalmente, no que concerne à lacuna existente entre o currículo da licenciatura em filosofia e a matriz curricular do Ensino Médio.

Objetivos
  • Compartilhar discussões e experiências, desenvolvidas por pesquisadores nacionais e internacionais, com reconhecida produção na área, contemplando debates especializados sobre pesquisas e estudos atuais no campo do ensino de Filosofia. 
  • Debater sobre formas de colaboração para a construção de uma proposta de formação ética e humana, visando compreender o papel da universidade, da escola e dos seus atores na constituição do ensino da Filosofia para Educação Básica.
  • Discutir sobre a aula de filosofia como acontecimento, entre o passado (o planejamento respaldado na matriz curricular), o presente (o método: a aula) e o futuro (avaliação).
  • Reavaliar as abordagens nacionais dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e LDB no 9.394/1996 diretamente ligadas ao ensino de Filosofia na Educação Básica.
  • Ampliar as discussões e avaliar as experiências formativas dos licenciandos em filosofia, e também no Programa de Iniciação à Docência – Pibid, estreitando relações entre a Academia de Filosofia e Academia de Educação.
  • Ratificar e aprofundar as reflexões relativas ao 5o objetivo estratégico da Unesco, da área das ciências humanas e sociais no Brasil. Neste sentido, o evento contribuirá na ampliação do conhecimento da filosofia para a formação, especialmente de adolescentes e jovens.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Escrever é preciso: o princípio da pesquisa - Mario Osorio Marques

Escrever é preciso!!!

Por Maria Helena Bonilla
 
Escrever é preciso: o princípio da pesquisa é um livro do saudoso professor Mario Osorio Marques (meu professor no Mestrado em Educação nas Ciências, da Unijui), publicado pela Ed. Unijui em 1997. Neste início de semestre, retomando minhas aulas na UFBA, após um ano afastada para pós-doutorado, me deparando com as dificuldades enfrentadas pelos alunos, tanto da graduação, como da pós-graduação, para deixar-se levar pelo ato da escrita, volto aos ensinamentos de Mário Osório. Ele entendia o ato de escrever como um ato inaugural, cujo maior desafio é começar. Depois disso, é deixar assunto puxar assunto, conversa puxar conversa, escrever puxar assuntos que puxam o reescrever. E assim escreve-se para pensar e para saber buscar novas leituras.
No entanto, nossos alunos não foram preparados para adentrar nessa fluidez. Ao longo de todo seu processo formativo ficaram amarrados às práticas repetitivas, ao que os autores dizem em seus livros e artigos (as famosas resenhas e resumos!), que acabam sendo, na maioria das vezes cópias das ideias desses autores. Onde fica a autoria de nossos alunos? Quando solicitados a escrever uma reflexão sobre uma ideia, uma questão polêmica, um conceito, um fato, não conseguem se desprender dessas amarras históricas, ou então, o máximo que conseguem é um pequeno parágrafo, muito tímido, que expressa mais o medo de se mostrar e se deixar perceber pelo outro do que as ideias, os argumentos, as relações que constroi.
Considero essa limitação problemática nos alunos de graduação, mas mais ainda nos alunos de pós-graduação, pois têm pela frente a escrita de uma dissertação ou de uma tese - como escrevê-las se ainda estão amarrados aos autores que lêem? Como se desvincular deles para transformar a escrita num ato inaugural e no princípio da pesquisa? Estamos investindo nisso - um grande desafio pela frente!

Sugiro a todos a leitura do livro de Mario Osorio Marques!

http://redesocial.unifreire.org/bonilla/blog/escrever-e-preciso

Ostra feliz não faz pérola - Rubem Alves


Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que representam as delícias dos gastrônomos. Podem se comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos -, seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse, a sua sabedoria as ensinou a fazer suas casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão...". Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda.
   Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava. Um dia, passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa.
   Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucubiram ao pessimismo. A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven - como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh, Cecília Meireles, Fernando Pessoa...

Disponível em: http://jeanete-rezer.blogspot.com/2011/02/ostra-feliz-nao-faz-perola.html

sábado, 5 de novembro de 2011

Tem Tudo a Ver - Elias José


A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
— é só abrir os olhos e ver —
tem tudo a ver
com tudo.
 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O teu riso - Pablo Neruda


O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


Pablo Neruda

http://www.fabiorocha.com.br/neruda.htm

Experiências de Vida e Formação - Marie-Christine Josso

Uhuuu! =D 
Após um tempinho de "abandono", voltei, enfim, a postar unas cositas pedafilosofantes... rsrs Durante esse período, novos horizontes foram vislumbrados, muitos sorrisos se me sorriram... :) A exemplo, o ingresso na pesquisa (PIBIC/CNPq) com o Projeto Tapiramutá/FEP, na UFBA. Dentre a rica bibliografia da Pesquisa/Projeto, encontrei uma obra ímpar, que muito me chamou atenção. Como não poderia deixar de compartilhar, segue abaixo indicação, para quem trabalha com a pesquisa auto-biográfica na formação de professores em exercício e para quem não se aguenta de curiosidade (epistemológica)...

Socorro Aparecida Cabral Pereira
Mestre em Educação
Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Marie-Christiane Josso é professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Socióloga e antropóloga, é doutora em Ciências da Educação, com uma tese intitulada Chaminer vers soi (Caminhar para si), publicada em 1991. É membro – fundador da “Associação das Histórias de Vida em Formação” (ASIHVIF) e é regularmente convidada a ministrar cursos em instituições públicas e privadas, ligadas à Educação e Saúde, na Suíça, França, Canadá, Portugal e Brasil, desenvolvendo sua abordagem de formação experiencial.
Em Experiências de Vida e Formação, a professora Josso apresenta-nos uma abordagem de formação baseada na descoberta e valorização da singularidade do sujeito. Traz a formação experiencial como um dos conceitos chave das Histórias de Vida em Formação, destacando a importância da narrativa neste percurso, pois ela permite explicitar a singularidade e perceber o caráter processual da formação e da vida, articulando espaços, tempos e as diferentes dimensões de nós mesmos, em busca de uma sabedoria de vida.
O livro encontra-se organizado em doze capítulos, ao longo dos quais Josso busca de acordo com uma abordagem fenomenológica, compreender como as pessoas se formam, rompendo com uma concepção de formação centrada apenas nas dimensões técnicas e tecnológicas. Os doze capítulos foram agrupados em três partes principais: a primeira retratando a importância da formação no centro das narrativas de vida, a segunda trazendo as histórias de vida como metodologia de pesquisa-formação e por último, a discussão sobre a contribuição do saber biográfico nos dispositivos de formação.
A primeira parte subdivide-se em três capítulos. O primeiro destaca as experiências ao longo das quais se forma identidades e subjetividades. Neste, a autora tenta demonstrar que a formação precisa ser trabalhada do ponto de vista do aprendente em interações com outras subjetividades. Discussão esta que é contemporânea, visto que a maioria dos programas de formação limita-se às dimensões técnicas e tecnológicas, necessitando assim de uma compreensão mais profunda dos processos através dos quais as pessoas se formam.
Após o primeiro capítulo do livro, a autora centra sua discussão na experiência formadora, destacando a importância de um trabalho reflexivo sobre o que se passou e sobre o que foi observado, percebido e sentido nos percursos de formação. Articulando experiência e formação, Josso destaca três modalidades de elaboração da experiência. A primeira que é “ter experiência” diz respeito a vivências de situações e acontecimentos que se tornaram significativos, porém sem termos provocado. O “Fazer experiência” relaciona-se às vivências de situações e acontecimentos que nós próprios provocamos. E o “pensar sobre as experiências” diz respeito a um conjunto de vivencias que foram sucessivamente trabalhadas para se tornarem experiências.
Ainda nos capítulos três e quatro, a autora nos alerta que o conhecimento de si mesmo não está relacionado apenas a compreensão de um conjunto de experiências ao longo da vida e sim a tomada de consciência de que este reconhecimento de si mesmo como sujeito, permite encarar o itinerário de uma vida. De acordo com as pesquisas desenvolvidas por Josso, destacam-se quatro buscas nas quais os autores dizem ter se empenhado ao longo da vida: a busca da felicidade, a busca de si e de nós, a busca de conhecimento e a busca de sentido.
Na segunda parte do livro, nos capítulos cinco e seis a autora relata a metodologia vivenciada na pesquisa formação, alertando-nos para o fato de que cada etapa da pesquisa é uma experiência a ser elaborada para quem nela estiver empenhado em participar. Na introdução do trabalho com as narrativas é apresentada à proposta e os caminhos intelectuais que deram origem às opções teóricas das autoras. Em seguida, na fase de elaboração da narrativa, cada participante expõe oralmente e escreve a sua narrativa. A terceira etapa caracteriza-se como fase de compreensão e interpretação das narrativas escritas, onde cada participante é convidado a apresentar a sua narrativa e a apropriar-se da narrativa do outro. O texto se processa demonstrando o poder transformador das narrativas de vida centrada na formação à luz de diferentes papéis desempenhados na sua construção e interpretação. Para a autora, o trabalho com a narrativa possibilita a passagem de uma tomada de consciência da formação do sujeito para a emergência de um sujeito em formação, possibilitando a reflexão critica sobre o itinerário experimental e existencial.
No capitulo VII - Caminhar com: interrogações e desafios postos pela pesquisa de uma arte de convivência em histórias de vida, a autora traz a discussão sobre a importância do caminhar para si como projeto de vida e da tomada de consciência da subjetividade. Figuras antropológicas como o amador, ancião, balseiro e animador são destacadas por Josso nas diferentes etapas do processo de formação. A autora compreende que para o caminhar com os outros, faz-se necessário um saber – caminhar consigo em busca de um saber viver. Assim, no capítulo oito é apresentado o conceito de experiência fundadora, como uma experiência maior que orienta o projeto de procura de uma arte de viver. No decorrer do texto,a autora qualifica sua proposta de pesquisa como pesquisa – formação, argumentando que na perspectiva desta abordagem, os resultados da pesquisa estão intimamente ligadas à qualidade das aprendizagens iniciadas ou aprofundadas pelos participantes no processo de formação.
Na terceira etapa do livro, a autora discute as contribuições do saber biográfico para a concepção de dispositivos de formação. Inicia o capítulo nove, alertando-nos sobre o choque da gestão da temporalidade sociopedagógica coma gestão da temporalidade sócio-individual. A autora constrói a sua crítica sobre o processo de aprendizagem, alertando-nos que neste percurso, precisamos desaprender para aprender – a. Assim a temporalidade da formação verbalizada e socializada numa narrativa de vida é o tempo de realizar uma tomada de consciência e de fazer um trabalho de integração e de subordinação que pode levar alguns minutos, algumas semanas, alguns meses, alguns anos ou até mesmo toda uma vida. Ao longo do capítulo dez Josso chama a atenção para a importância do seminário de “Histórias de Vida e Formação” tendo como foco a construção de pensamentos sobre si e sobre o outro. Destaca o distanciamento, a implicação, a responsabilização e a intersubjetividade como categorias importantes no processo da formação.
A discussão sobre o percurso de aprendizagem é apresentada por Josso no capítulo onze com a temática: formar-se quando adulto: desafios e riscos apostam recursos e dificuldades. A autora atrela o ato de aprender ao ato de pesquisar, pois acredita que este possibilitaria aos aprendentes o desenvolvimento da sua criatividade, habilidade, capacidade de avaliação, comunicação e negociação. Descreve o percurso de aprendizagem em três fases: iniciação, integração e subordinação.
Os projetos entre aberturas à vida e suportes imaginários de nossa incompletude, é a temática apresentada no capítulo doze onde a autora destaca a antecipação e a criatividade como noções subjacentes que permitem captar o lugar, o sentido e o estatuto epistemológico da noção de projeto.
Sem dúvida, a leitura deste livro fornecerá, substancialmente, aos profissionais interessados na formação de professores, a reflexão centrada na bagagem experiencial através da narrativa, desde que considerem o processo de formação como um processo de autoformação, hetero-formação e eco-formação.

terça-feira, 26 de julho de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Soneto de Camões




Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sou e ponto - Juliana Santos



Se arteira ou artista
não sei bem quem sou.



Se flor do campo lá na beira
percebida
ou não
nesse chão
tua brincadeira
imensidão...



Será que sou rima
ser que cativa
encanto
um sonho risonho
ou canto encantador?



Um exalar de alegria
frescor de saudade
aquela poesia
suavidade
ou o teu amor?



Ah! descrever-se é limitar-se...
Só sei que sou.
E ponto.

Ímpar ou ímpar - Paulo Leminski




Pouco rimo tanto com faz.
Rimo logo ando com quando,
mirando menos com mais.
Rimo, rimas, miras, rimos,
como se todos rimássemos,
como se todos nós ríssemos,
se amar (rimar) fosse fácil.

Vida, coisa pra ser dita,
como é fita este fado que me mata.
Mal o digo, já meu siso se conflita
com a cisma que, infinita, me dilata.



Este e outros poemas podem ser encontrados em: http://docecomoachuva.blogspot.com/ uma verdadeira fonte que transborda poesia e encantamento...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mariposas lilases - Roseana Murray




todas as doces pessoas que conheci
no meio-fio da vida
e que me escaparam das mãos
de uma maneira ou de outra
como um pássaro escapa
como um sopro escapa
de dentro dos ossos
voltem me enlacem me envolvam
me ajudem a suportar
o peso quieto das palavras
o rumor invisível das águias
por que se perderam de mim
essas doces pessoas?
tragam de volta seus rostos
como frutas de seda numa bandeja
como mariposas lilases

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mary Arapiraca, a rainha das palavras!

Hoje meu dia foi pura poesia...

Na foto, Mah, a Rainha e eu... lindas! :) 

Mesmo não fazendo parte da turma de Estágio 1 com a professora Mary Arapiraca, tal como uma formiguinha enxerida (risos) lá fui eu, assistir a primeira e, hoje, a última aula do semestre. Fui, pois, para completar o ciclo... como sugeriu Mah. E amei!

Esse momento, certamente, deveria constar neste espaço de construção do conhecimento que tem, por natureza, a suavidade da poesia.

Na aula com a Rainha passei por bosques, campos e jardins que exalavam alegria, luz, vigor e muita, muuuita poesia...

Com seu aprazível e cativante olhar, lá vem a Rainha a me dizer: "A vida não é aquilo que a gente viveu, mas é aquilo que a gente se lembra..." (Gabriel Garcia Marquez).

Como que em um transbordar da alma, a Rainha fez ainda ecoar os pensamentos de Saint-Exupéry, em Terra do Homens...

Ah! Rainha, como não fazer parte desse seu reino encantado...?

Quem é a Rainha e qual é o seu reino???
Logo explico: A Rainha é Mary e seu reino, as palavras.

Mah, obrigada pelo convite, pois já estava indo embora da facul!

Mary, agradeço o momento... Certamente, deste, sempre me lembrarei!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Poesia - Miguel Reale


A poesia é pena sem castigo
ou remorso sem sombra de pecado,
um amor solidário a toda gente
que dói desde a medula de teus ossos.

Poesia é um cantinho solitário
ou espuma de existência transbordante,
uma pluma que beija o cotidiano
ou uma chaga de luz não sei de onde.

Poesia é o caminho para o exílio
com saudade da terra de partida
quanto mais perto a terra prometida,

mas é também o derradeiro auxílio
que nos torna melhores de repente
ao percebermos que ela é a semente.
http://docecomoachuva.blogspot.com/2011/01/poesia-miguel-reale.html

O professor que odeia o livro

É considerado habilidoso aquele soldado que carrega rapidamente sua arma e em fração de segundos tem o inimigo sob mira certeira. Também é muito apto o trabalhador fabril que ajusta uma peça na velocidade correta, então deslocada na sua direção por uma esteira na linha de montagem. Velocidade e destreza, nesses casos, são essenciais. Essa velocidade e essa destreza, uma vez no campo da leitura, talvez sejam exigidas no e-mail e no twitter. Todavia, valem pouco para os intelectuais que, enfim, se alimentam antes de tudo do livro.
O livro é o campo do intelectual. Não é o campo do estudante que, enfim, é transformado pelos professores, quando muito, no soldado, no trabalhador fabril e no leitor de twitter. O estudante é tirado, pelo professor, da estrada que poderia transformá-lo em um intelectual ou, ao menos, em uma pessoa capaz de autonomia de julgamento. Vítima de pequenos textos em forma de cópia Xerox, o professor tornou-se alguém que perpetua a cultura da pressa e do acúmulo, tornando seu aluno igual a ele próprio, antes um meio leitor que um leitor.
Esse professor é um inapto. Mas o pior é que ele é um produtor de inaptos. Há muito ele caiu no conto de uma das vias da modernidade, a que confundiu rapidez com objetividade. No campo de batalha, o soldado que arma seu fuzil rapidamente e de modo mais veloz ainda tem o inimigo sob mira, recebe o nome de um “atirador objetivo”. De modo menos dramático é o caso do “jogador objetivo”, que finaliza bem e reduz o jogo todo a algo muito chato caso não exista o gol. Essa noção de objetividade desliza erradamente para a atividade do leitor e, então, qualifica o que é o “leitor objetivo”. Este, desse modo, é o que “vai direto ao ponto” no texto e não sucumbe às diversas possibilidades interpretativas. O que deveria ser uma virtude do bom leitor, que é justamente a capacidade de sucumbir às diversas possibilidades interpretativas, indo e vindo no texto, parando para repensar e fazer conexões próprias, agora é o comportamento condenado.
Nessa cultura que a filósofa Olgária Matos chama de o “vamos direto ao ponto”, as palavras subjetivo e objetivo perdem sua melhor significação. Subjetivo não é mais próximo de reflexivo e, sim, de confuso e lerdo. Objetivo continua a ser quase sinônimo de verdadeiro, mas não pela sua qualidade de independência e, sim, pela sua simplicidade e rapidez. Essa confusão de conceitos que criou o leitor de nossos tempos, o leitor não intelectual, é comemorada então pela universidade que abriga o professor inapto.
Esse professor começou sua carreira sem perceber que iria se tornar o que se tornou. Ele não se matriculou em um curso para ser imbecil, é claro. Mas ele não foi suficientemente esperto para escapar da tarefa que ganhou nos primeiros dias de aula, talvez bem antes da universidade, tarefa esta que ele, depois, passou a repetir com seus alunos candidatos a aleijões mentais. Foi lhe dado, logo no início de sua vida escolar, antes a tarefa de resumir textos e colocar “as idéias principais” que a tarefa de compreender o texto e expandi-lo por meio da imaginação, criação e busca de erudição. Assim, de resumo em resumo, no afã da atividade de tornar tudo menor, mais rápido e curto, ele acabou encurtando, verdadeiramente, sua inteligência. Ficou curto mentalmente. Nada lê para criar. Tudo lê para fichar. Até seu mestrado e doutorado foi feito assim, por meio de “fichamentos”. Ele até chegou a ler um manual de metodologia científica que aconselhava o fichamento! Ele se tornou, assim, uma pessoa limitada se sem a menor idéia do que é ser um leitor. Ganhou um “Dr” na frente do nome, que o legitimou nessa atividade que ele acredita que se encaixa na universidade perfeitamente. Exibe esse seu hábito de pegar atalhos, que o torna um símio, e é assim que se comporta: exibe seu método de “fichamento”, resumo, e leitura do crime do Xerox como o macaco exibe o pênis quando vê a fêmea humana.
Paro por aqui, pois já ultrapassei o tanto de linhas que os alunos desse professor conseguem ler. Eu disse os alunos, ele mesmo, o dito professor, parou bem antes, no segundo parágrafo. Esse tipo de professor se tornou um ejaculador precoce. Ele não leva adiante nada que ultrapasse uma lauda, e mesmo assim, às vezes não termina nem mesmo uma lauda uma vez que, precisando de dicionário, não o apanha na estante e tem preguiça de consultar o da Internet, aberta na frente dele.


Sobre leitura e sobre esse tipo de adorador do resumo, veja o vídeo aqui.

domingo, 26 de junho de 2011

Caixa mágica de surpresa - Elias José

Um livro
é uma beleza,
é caixa
mágica
só de surpresa.

Um livro
parece mudo,
mas nele a gente
descobre tudo.




Um livro
tem asas
longas e leves
que de repente,
levam a gente
longe, longe.

Um livro
é parque de diversões
cheios de sonhos coloridos,
cheio de doces sortidos,
cheio de luzes e balões.


Um livro
é uma floresta
com folhas e flores
e bichos e cores.

É mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata no mar,
um foguete perdido no ar,
é amigo e companheiro.


http://docecomoachuva.blogspot.com/search?q=caixa

terça-feira, 21 de junho de 2011

Programa Salto para o Futuro na Bahia

O vídeo abaixo traz importantes reflexões sobre:

  • Currículo Multirreferencial;
  • Projeto Tabuleiro Digital em Irecê;
  • Experiências de grupo de pesquisa na criação de jogos educativos;
  • Curso de formação de professores em Moodle
  • Entrevista com o professor Nelson Pretto;
  • E muito mais...

Confira:

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Rancho das flores - Vinícius de Moraes

 



Entre as prendas com que a natureza
Alegrou este mundo onde há tanta tristeza
A beleza das flores realça em primeiro lugar
É um milagre
De aroma florido
Mais lindo que toda as graças do céu
E até mesmo do mar

 
Olhem bem para a rosa
Não há mais formosa
É a flor dos amantes
É a rosa-mulher
Que em perfume e nobreza
Vem antes do cravo
E do lírio e da hortênsia
E da dália e do bom crisântemo
E até mesmo do puro e gentil malmequer

E reparem no cravo
O escravo da rosa
Que flor mais cheirosa
De enfeite sutil

 
E no lírio que causa o delírio da rosa
O martírio da alma da rosa
Que é a flor mais vaidosa e mais prosa
Entre as flores do nosso Brasil

 
Abram alas pra dália garbosa
Da cor mais vistosa
Do grande jardim da existência das flores
Tão cheio de cores gentis
E também para a hortênsia inocente
A flor mais contente
No azul do seu corpo macio e feliz

 
Satisfeita da vida
Vem a margarida
Dos que têm paixão
E agora é a vez
Da papoula vermelha
A que dá tanto mel pras abelhas
E alegra este mundo tão triste
Com a cor que é a do meu coração

 
E agora aqui temos o bom crisântemo
Seu nome cantemos em verso e em prosa
Porém que não tem a beleza da rosa

 
Que uma rosa não é só uma flor
Uma rosa é uma rosa é uma rosa
É a mulher rescendendo de amor.
 
http://docecomoachuva.blogspot.com/search?q=paix%C3%A3o 

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poema-amar [à Mah] - Juliana Santos

Abaixo, meus versos simples...
Rimas que, de tão pobres, acabam ficando ricas.
As rimas-pobres-ricas. 
Uns versos mais-que-brancos que, curiosamente, se tornam coloridos.

Todo esse esforço para, ao menos, tentar expressar um pouco do meu AMO à essa pernambucana arretada. MARCÍLIA é ela... Elane, pode ser também. Ou os dois nomes: Marcília Elane. Na verdade, para mim, ela é a Mah.

Ao longo do processo, nessa árdua jornada no curso de Pedagogia, temos construído uma história recheada de alegrias, respeito, motivação, etc. e, sobretudo, ética (que, creio eu, "passa bem perto" de nós... rsrs). E, esse construir tem valido tão à pena... Pensando nas experiências que compartilhamos até aqui e no "tudo que é seu todo", me veio esse (re) inventar, meu momento criativo.

Agora, deixarei minha voz infante um tanto quieta.
Cabe, assim, um silenciar "meu", para ouvir meu "eu poeta":



Poema-amar [à Mah]


Fica assim não, coração
que tua dor es mi dolor
Seja!
Ames, te alegres...
Porque "a hora é a-go-ra!"
Não foi assim que me dissestes?
Pois, abre esse sorriso largo e irreverente
Beija!
Encantes, te lances...
Por que o que te prendes?
Nada
Tu só aPRENDES
Ora
Diga teu "Bom diia!"
não liges pra essa gente...
Mas eu, teu querubim,
de ti só quero um sim:
o sim querendo o hoje, o agora
Vão bora?!
Porque, na vida, nada de dor...
o gostoso mesmo dela, minha flor
é o todo no tudo!
é esse teu conjunto de "Mah", poema-amar...
para esse teu tudo de AMOR.


Este texto Poema-amar [à Mah] foi enviado por e-mail para a Mah.

Com a devida autorização, segue sua resposta, a reciprocidade.

"Ah!!Jú com lágrimas brotano de minha alma autorizo sua forma de amor para comigo, ainda mais quando se traduz de maneira poética, como tal poema.
Jú, conhecer-te apenas já fez minha caminhada valer muitooooo a pena!!!
Se tenho tanto amor, o que encontro em ti?!
A certeza de que amar vale a pena, que sou mais quando amo e me doar ao amor, ah!experiência única que me oportuniza encontrar tesouros como vocÊ!!!
Ter uma Juliana Santos em minha vida, faz toda a diferença. E de tanto querer, queremos juntas e dividimos de tudo um pouco!!

Eu Coração tu!"
Marcília Elane

Isso explica o que me move. É também por isso que a poesia não me deixa, me inquieta.
Aí eu pergunto: tem outro jeito, senão, cumprir seu desejo, escrevendo para ela?

Obs.: A imagem, na cor lilás, com as corujinhas, dispensa comentários...

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Velho e A Flor - Vinicius de Moraes / Toquinho / Bacalov

........delicacy........




Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:
O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor

Livros - Caetano Veloso

Composição : Caetano Veloso
Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.


Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.


Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:


Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.