quinta-feira, 31 de março de 2011

"O que é a felicidade?"

Acredito que responder esta pergunta seja um desafio atualmente. Em uma época em que praticamente tudo é subjetivado... Mas, vamos filosofar! 
Certo dia, encontrei um vídeo do programa Loucuras Filosóficas que abordava justamente esse assunto. Detalhe: "Loucuras" mesmo! rsrsrs Mas são válidas. Existem muitos outros temas/assuntos, como, por exemplo: "o que é a filosofia", "sexo e erotismo", "a ética em sócrates e platão" etc. Através desses vídeos pude visualizar algumas possibilidades para responder minhas inquietações. O incrível é que não são respostas prontas, até porque isso não "cola" mais. 
Com os diálogos entre Alexandrelli, Paulo Ghiraldelli Jr e internautas sobre filosofia, aprendo, analiso, critico e, sobretudo, me acabo em gargalhadas... É muito engraçado! Abaixo, o primeiro programa que tive acesso, enquanto buscava compreender o que é a FELICIDADE através do viés filosófico.
Obs.: O projeto da eudaimonia é lindo, mas... que pena! Ainda temos muito o que aprender com o grego antigo. Assista e confira:


Dicionário Señas

Ei! Você está à procura de um bom dicionário de espanhol direcionado ao ensino de espanhol para brasileiro? Se sim, segue indicação de um dos mais adequados, segundo orientação dos professores da licenciatura de Letras: Língua Espanhola:

 
Título: Señas - Diccionário para la Enseñanza de la Lengua Española
Autor : Fontes, Martins
ISBN : 8533613997
Editora : Editora WMF Martins Fontes

Monografia de Conclusão de Curso


No texto abaixo, Ghiraldelli dá bons conselhos que podem auxiliar em um dos processos mais árduos da vida de um estudante universitário. 
Após essa leitura meus horizontes se expandiram. Na verdade, os textos (e vídeos) deste filósofo sempre estão presentes neste blog porque eles são inteligentes, amadurecem, sensibilizam e, principalmente, nos oportuniza desbanalizar o banal.   

A Monografia de Conclusão de Curso (MCC) em Filosofia da Educação
A Coordenação do Curso de Pedagogia da UFRRJ, pelas mãos da professora Helena Correa de Vasconcelos e com o aval da professora Ana Chiquieri, tornou público o documento de “Orientações Regulamentares para a Monografia de Conclusão do Curso de Licenciatura em Pedagogia”. Tendo esse documento como diretriz geral, segue aqui um escrito específico, de caráter instrutivo, para a confecção da MCC em filosofia da educação.
Como o nome já diz, uma monografia é um texto de temática única. Em filosofia da educação, trata-se de um texto antes próximo do ensaio monotemático que propriamente do paper ou artigo científico. O paper ou artigo apresenta de maneira sucinta os resultados de uma pesquisa e as conclusões parciais ou finais inferidas desses resultados. O ensaio é, diferentemente, um texto de caráter dissertativo que, enfim, se aproxima da narrativa que visa “contar uma história” em que a exposição e a argumentação se entrecruzam.
No nosso caso, a monografia é um ensaio monotemático em filosofia da educação, isto é, uma dissertação a partir de um único tema, em que o autor expõe situações, condições e histórias e, ao mesmo tempo, fornece argumentos de modo a tornar o leitor convencido de que o que diz é bastante razoável de se acreditar.
A monografia em filosofia da educação pode muito bem se basear em uma pesquisa e, em geral, é realmente assim que ela se constitui. No entanto, não se trata aí de uma pesquisa laboratorial, em que todo o evento a ser estudado e do qual se tirará conclusões é um experimento. Nesse caso, a base é antes a experiência de leitura, às vezes associada à experiência de vida, que fornecerá o tema e, não raro, também o fio condutor da narrativa do ensaio monotemático.
A pesquisa científica tem por centro o experimento e gera o paper ou artigo. A pesquisa em filosofia tem por centro a experiência (de leitura e vivência) e gera o ensaio ou o ensaio monotemático – a monografia.  Por sua vez, a pesquisa em filosofia da educação, para o caso específico aqui, tem no centro a experiência de leitura e vivência no âmbito pedagógico relacionadas a um tema do “assunto educação”, muito bem recortado. Esse recorte se faz, efetivamente, no decorrer da própria narrativa que deve gerar a monografia. O recorte se mostra no próprio ensaio monotemático, ou seja, ele é o resultado final; isto é, ele é a monografia delimitada pelo que diz expositivamente em termos de pedagogia e o que diz argumentativamente em termos das justificações filosóficas dessa pedagogia.
Um exemplo ajuda muito.
O material empírico da pesquisa em filosofia são os livros, são os escritos, em geral os escritos dos filósofos. O material empírico da pesquisa em filosofia da educação são os escritos educacionais. Eles podem estar no campo da política educacional ou das doutrinas pedagógico-didáticas ou da legislação educacional ou no campo das discussões da psicologia educacional envolvidas numa proposta pedagógica etc. Em geral, aqueles textos que marcaram época e lugar e que, enfim, se tornaram capazes de mostrar, na sua particularidade, características relativamente universais, são os objetos preferidos. Eles são, por essas qualidades, o que chamamos de livros ou documentos clássicos da educação. Assim, se aqui vamos para um exemplo, podemos ter como objeto um documento clássico da educação brasileira, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932.
O nosso objeto está escolhido. O que fazemos agora? Ora, o primeiro trabalho é lê-lo despreocupadamente. Temos de saber do que se trata. Temos de curtir o nosso objeto, gostar dele, vê-lo como algo que desnuda um mundo interessante. Amar o objeto é uma boa pedida nessa hora. Odiar até pode ser uma boa pedida, mas não em um trabalho inicial. Odiar algo e escrever sobre ele não é para iniciantes. O Manifesto é um texto possível de ser amado. Ele apresenta uma proposta ampla e generosa para a educação brasileira, redigida por Fernando de Azevedo e assinada por vários outros intelectuais. Foi publicado em um ano chave, 1932, o ano em que Vargas entrou em conflito com os paulistas que, enfim, cobravam do chefe da Revolução de Trinta uma Constituinte prometida e que, até aquele momento, não tinha aparecido. O Manifesto nasceu com a pretensão de fornecer ao novo governo um programa de ação para a educação. Tratava-se de uma oferta para a Revolução de Trinta. Uma tentativa dos intelectuais mais diretamente ligados a São Paulo e Rio de Janeiro de marcar posição quanto aos caminhos educacionais do novo governo. Desde o seu início, o Manifesto se mostrou um texto capaz de se tornar um clássico, e assim realmente se deu.
Passada essa etapa do trabalho, talvez possamos ler alguns comentadores do Manifesto, de períodos diferentes, tanto da época em que foi publicado como depois. Esses autores comentadores são os que falaram do conteúdo do Manifesto, apoiando-o ou combatendo-o à medida que mais próximos da data de sua publicação. Mas, quando tomamos os comentadores mais distantes da data de publicação, vemos então o que foi decantado do texto, o que ficou e o que foi dispensado como “meramente datado”. No caso, o Manifesto foi produzido por intelectuais laicos, a maioria deles de formação liberal. A oposição ao Manifesto veio da esquerda e da direita, mas somente o registro da direita valeu para a época. Os intelectuais católicos é que o analisaram – e bem – para, enfim, erguer diante dele sérias objeções. As análises posteriores, no entanto, trouxeram rapidamente leituras históricas, praticamente enfatizando essa oposição entre liberais e católicos que citei.
A partir daí podemos, então, voltar ao próprio texto. Chegou a hora de, olhando bem o interior do Manifesto, escolhermos o tema único, aquele tema que vale a pena ser desenvolvido.
O Manifesto tem uma divisão nítida, geral, fácil de ser identificada: ele é um texto de política educacional e é, também, um texto de diretrizes pedagógico-didáticas. Ele diz o que o governo deve fazer em termos da educação brasileira e também como a escola deve se organizar para potencializar a relação ensino-aprendizagem. Qual desses dois temas pode ser o nosso tema? No nosso ensaio, podemos mencionar essa divisão, mas, enfim, para obedecermos a característica do nosso trabalho temos de optar por um tema, por um eixo de condução de nosso escrito. Enfim, temos de fazer o ensaio monotemático – a monografia. Escolhemos, então, a parte “pedagógico-didática” (o motivo dessa escolha é bastante subjetivo, mas nos saímos bem quando optamos em razão da nossa maior desenvoltura com o assunto escolhido). Nessa hora, relemos o texto já anotando tudo que nele se refere a esse assunto, tudo que é de pedagogia e, enfim, não é de política educacional.
Em seguida, voltamos aos comentadores. Avançando nas leituras dos comentadores começamos a ver o que disseram do Manifesto, levando em conta o tema escolhido, o da doutrina pedagógico-didática. A essa altura do trabalho, já sabemos que a doutrina é, em termos gerais, a da “escola ativa” e, portanto, as diretrizes pedagógicas aí postas são as do movimento da Escola Nova. Distinguimos essa doutrina, observamos o seu caráter, o que ela tem das várias contribuições estrangeiras e nacionais e, então, olhamos para o Manifesto como quem pode identificar qual Escola Nova está ali presente. Nesse momento, podemos parar nossa leitura para uma pesquisa mais ampla sobre a Escola Nova, se percebermos que estamos despreparados para compreender os detalhes da doutrina pedagógica e psico-pedagógica do Manifesto.
Não raro, é nessa hora que podemos nos frustrar, vendo que nos faltou informações no curso de graduação de pedagogia, no âmbito das matérias básicas. Mas, sempre temos de notar que, se assim ocorreu, a monografia é exatamente um momento de volta aos estudos, em especial estudos sobre aquilo que não foi visto durante o curso. Quando escrevi o Filosofia e história da educação brasileira (Manole, segunda edição, 2008), em boa medida eu imaginava um livro capaz de suprir essas deficiências de um curso de pedagogia, um livro que atuasse não só em sala de aula, mas que se tornasse importante na hora da monografia de final de curso.
Feito isso, podemos considerar que demos um passo importante. Então, mais uma vez relemos o Manifesto. Nessa linha, vamos para as justificações do Manifesto, ou seja, a argumentação filosófica da Escola Nova, aquela Escola Nova presente no Manifesto. Quando elaboramos em nossa escrita essas argumentações postas pela filosofia da educação de tal doutrina, tanto na sua matriz (seus livros básicos) quanto no que o documento (o Manifesto) apresenta, eis que estamos no momento exato de começarmos a realmente redigir o ensaio como um todo. A essa altura já escrevemos alguma coisa e já sabemos se é John Dewey ou não que está na base da Escola Nova do Manifesto. Também já sabemos, é claro, que Paschoal Lemme foi um signatário e que, enfim, foi o último a falecer e deixou três volumes de “Memórias”, que dão bem a característica do tipo de Escola Nova que se fez presente no Manifesto.
Daí para diante, o que temos de fazer é contar a “história do Manifesto”, como ele foi produzido, quem foram seus autores, o que ele diz e quais as suas justificativas para aquela pedagogia que defendeu e que propôs. Nessa hora, quando somos iniciantes, nunca conseguimos não seguir um roteiro de um dos comentadores. Não raro, tendemos a nos afeiçoar ao que esteve mais próximo do documento analisado, o nosso objeto. Trata-se do comentador capaz de fornecer os detalhes e as miudezas sobre a produção do texto. Paschoal Lemme é o indicado aqui, pois ele foi aquele que, em nome do redator principal do Manifesto, Fernando de Azevedo, passou de casa em casa para que outros viessem a endossar e assinar o texto.
Como iniciantes, é difícil nos desprendermos desse comentador que, com a autoridade da presença diante do Manifesto, nos faz calar. Mas, com o tempo, em um segundo trabalho sobre o assunto (uma dissertação de mestrado?), talvez tenhamos condições de nos afastarmos bem (ainda que isso não seja uma necessidade) do autor que, inicialmente, foi o nosso guia histórico do primeiro trabalho.
Após tudo isso, o trabalho, então, é o de escrever e reescrever mais e mais vezes, até tornar o nosso texto monográfico conquistador, capaz de fazer um bom leitor não desistir dele. Por fim, podemos colocar as notas de rodapé, podemos melhorar aquelas notas que implicam em citações e referências. Cabe a esse momento, também, a tarefa de colocar o excesso de informação em notas de rodapé, de modo que esse excesso não atrapalhe o corpo do texto, tornando a leitura um tanto dispersa e, talvez, enfadonha. O nosso texto monográfico deve proporcionar uma leitura fluente e, para tal, devemos ser habilidosos em casar o caráter expositivo com o caráter argumentativo, próprio de um ensaio. Mas, temos de entender, essa habilidade só surge com o treino, com a constante prática de escrever e ser lido e criticado.
Para terminar e selar o serviço: caprichamos em uma revisão geral inicial no estilo, nos tempos verbais e nas imperfeições lógicas do texto. Deleitamo-nos com a escolha de algumas gravuras internas que, de preferência, poderiam ser inéditas – isso sobrevaloriza a monografia e mostra um capricho final, que sempre conta a favor de seu autor.
Precisamos de uma conclusão? É bom termos uma conclusão, onde sintetizamos a nossa experiência de leitura do texto clássico, o que implicará em nós mesmos arriscarmos dizer algo mais pessoal a respeito da Escola Nova e da Escola Nova embutida no Manifesto. Não necessariamente precisamos defender uma leitura contra a leitura de um ou outro comentarista. Essas divergências, se as encontramos, podem ser transferidas todas para notas de rodapé, a não ser que um dos comentadores tenha se tornado, do ponto de vista da filosofia da educação, um clássico de interpretação do Manifesto. Por exemplo, podemos acreditar que as críticas de Alceu de Amoroso Lima ao Manifesto não podem ser dispensadas. Todavia, nos trabalhos a respeito do Manifesto, a historiografia da filosofia da educação brasileira não parece apresentar um comentador clássico obrigatório. Em todo caso, é também uma questão de se avaliar ao final, se há ou não necessidade de dar importância para uma ou mais leituras do Manifesto, divergentes da nossa. Eis aí, por fim, nossa monografia em filosofia da educação pronta. O título: “A pedagogia do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova”.
Um trabalho como este, para um aluno da licenciatura em pedagogia, custa um tempo de mais de dois anos de envolvimento semanal com a leitura e produção de textos, corrigidos sempre pelo seu orientador. Por isso, minha sugestão é que o estudante de pedagogia não deixe o trabalho para o ano final de seu curso. Não seguindo essa minha sugestão, terá dificuldades enormes em conseguir fazer algo descente, capaz de ser avaliado e defendido em banca de argüição pública. Pense nisso.

©2010 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ
http://ghiraldelli.pro.br/ufrrjcursos/monografia-de-conclusao-de-curso/

Experiência indo pra a facul... Tudo depende de mim!

Hoje pela manhã, um fato muito curioso me ocorreu. Estava um pouco estressada por causa dos engarrafamentos que enfrentei, do calor insuportável que tomava a cidade e, talvez, devido a um possível início de TPM.
Saindo da primeira aula em direção à outro campus da universidade, tomei um ônibus com mais duas colegas de turma. O curioso foi que no fundo desse ônibus havia um rapaz que nunca tinha visto antes. Ele tirou uma folha de papel e entregou para uma das colegas, disse que era para ela me entregar. Assim que recebi olhei fixamente para ele, a fim de ver se era alguém conhecido. Como não era, logo me veio à cabeça: "O que esse cara quer? Isso são  horas de ficar paquerando, 'tomando ousadia' com os outros? E por que comigo? Oxe...". rsrs
Como não gosto de ficar julgando as pessoas, quanto mais em pensamento, logo perguntei o que ele queria e o que havia naquele papel. "É para você ler, depois passe para outra pessoa", disse ele, com um olhar aparentemente inofensivo. E acredito que era mesmo. Assim, aceitei o papel (texto) e agradeci. Mas algo me tirou da "zona de conforto". Aquele gesto tão atípico me fez refletir sobre a relação eu-outro-mundo...
Estamos tão acostumados a não nos relacionarmos de maneira atenta com o outro, principalmente no espaço ônibus. Pensando bem, o que sempre percebo nos seis ônibus que embarco diariamente é que as relações interpessoais se resumem muito a gestos "rústicos" que acanhadamente nós fazemos (nesse "nós" não conto aqueles brutamontes que passam espezinhando todo mundo).
Para apanhar o material pesado das mãos de alguém, geralmente, as pessoas não falam... "Bom dia! Quer ajuda? Eu posso segurar seus livros...". Em vez disso, apontam para o objeto e maneiam um pouco a cabeça. Isso quando decidem ajudar...
Obs.: A comunicação não verbal é um elemento fundamental nesse processo de interação, tenho estudado sobre ela, mas não cabe, aqui, desenvolver considerações a cerca disso. Em outro post, quem sabe... 
Ainda sobre o rapaz e o texto, tudo aconteceu em menos de dois minutos, nem tinha passado pela catraca ainda. Foi então que percebemos... Ops! Estávamos no ônibus errado. rsrs
Por que tomamos o ônibus errado, se fazemos o mesmo trajeto todas as terças e quintas-feiras?! Não sei... Talvez porque eu estava sem meus óculos...  Ou, quem sabe, naquele momento, tudo o que eu precisava era ler o "tal texto", para logo me acalmar, deixar de estresse e assistir a aula de matemática. 

Socializando, segundo a recomendação do rapaz, eis o bendito texto: 
  
"Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia-noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.

- Posso reclamar porque está chovendo... ou agradecer às águas por lavarem a poluição.

- Posso ficar triste por não ter dinheiro... ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.

- Posso reclamar sobre minha saúde... ou dar graças
por estar vivo.

- Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria.... ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar.... ou agradecer por ter trabalho.

- Posso sentir tédio com as tarefas da casa... ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.

- Posso lamentar decepções com amigos... ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.

Se as coisas não saíram como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim."

(Charles Chaplin)

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti


 

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Uauuu!
Fantástico, não?!
Tenho uma história engraçada sobre meu primeiro contato com esse texto de Colasanti. Algum dia escreverei contando como foi. 
Além disso, preciso comentar por que inseri uma imagem, como associei imagem e texto, como percebo a relação Pedagogia, Filô Letras nele etc. Queria que fosse hoje, mas, sem condições! A "demanda acadêmica" não deixa... rsrs  

Por enquanto, vamos conhecer um pouco mais sobre a autora: 
Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Ensino a distância

por Ana de Fátima Souza

Para onde vai a educação?

Os Jetsons
Aprendizado high-tech do desenho futurista ainda está longe da realidade
Quando se fala em futuro da educação a distância, é comum fazer previsões assustadoras e acreditar numa cultura dos Jetsons, em que crianças aprendem mais com robôs do que com humanos e a vida é orientada pelas tecnologias de ponta. Até bem pouco tempo essa era uma imagem do que seria o século 21 e, para a decepção da maioria, ainda se vive de forma muito parecida à geração anterior. Houve muita evolução no campo da tecnologia, sim. Mas as descobertas de última geração ainda são pouco acessíveis em um país como o Brasil.

No campo da educação, a inclusão ainda é restrita. Apenas 8% dos jovens brasileiros estão freqüentando escolas de ensino superior. Na Argentina este número salta para 30%. "Enquanto o Brasil não levar a sério sua universidade, não sairemos desse quadro", acredita o presidente da Abed, Fredric Litto, que é um dos mais empolgados defensores de uma evolução radical do conhecimento. "Acho que estamos cada vez mais próximos de uma realidade semelhante à do filme 'Matrix', em que chips são instalados e o indivíduo pode simular ambientes de aprendizado. Os laboratórios têm pesquisas avançadas neste campo de conhecimento, mas é preciso que o cidadão comum e os governos estejam preparados para as transformações", diz.
Discursos mais moderados apontam que por muito tempo o ensino não-presencial poderá ser uma importante ferramenta complementar para a educação tradicional. "A educação a distância ainda é muito mais interessante para aqueles que têm necessidades muito específicas, como concluir uma pós-graduação e se tornar mais preparado para o mercado da era digital", diz René Birocchi, do IUVB.
Na mesma linha segue o sociólogo, matemático e pensador francês Michel Authier: "A educação a distância é muito válida para quem tem uma necessidade específica de aprendizado. Esta forma de educação ainda não é capaz de socializar o indivíduo, de ensiná-lo a se relacionar com os outros, a praticar esportes vitais para o desenvolvimento. Esse conhecimento continuará sendo fornecido no convívio real com seres humanos. Isto ainda é fundamental para o desenvolvimento do homem", garante.
A área em que talvez se veja uma grande evolução é a da educação a distância voltada aos interesses empresariais. "Neste caso, a busca é muito mais intensa. O profissional que já está no mercado precisa correr contra o tempo para se especializar e se tornar mais competitivo", diz Birocchi, que faz pesquisas neste campo dentro da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.
Investimentos de bilhões de dólares por parte das grandes corporações podem levar os desenvolvedores de ferramentas para EAD a descobrir novas linguagens para a formação de profissionais. "Isso vai acabar se refletindo nos cursos de graduação e até mesmo nos ensinos fundamental e médio, mas é uma transição longa do que temos hoje para o que será a educação a distância do futuro", aposta Birocchi. "Estamos falando de uma mudança na forma de encarar a aprendizagem. Isso exige a quebra de uma série de valores sociais e culturais. E esse tipo de quebra acontece de forma muito lenta", acredita.


XX EPENN

Participar de eventos é muito bom... Eis aqui mais um:

XX EPENN

"EDUCAÇÃO, CULTURAS E DIVERSIDADES"
MANAUS - 23 a 26 DE AGOSTO DE 2011

O EPENNEncontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste em sua vigésima edição é o encontro regional de pesquisa em educação mais antigo do Brasil. Realiza-se desde os anos 70, congregando pesquisadores da área educacional e afins com o objetivo de socializar a produção teórica prática no campo educacional e fortalecer os programas de pós-graduação em educação do Norte e Nordeste.
O EPENN é um encontro bianual, vinculado à ANPEDAssociação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, promovido pelo Fórum de Programas de Pós-Graduação em Educação do Norte e Nordeste e organizado pelo Programa da cidade que o sedia.
Desde o encontro realizado em Salvador-BA, o encontro passou a reunir pesquisadores do Norte e do Nordeste do país, ampliando assim sua área de abrangência, antes restrita ao nordeste brasileiro.
A vinda do XX EPENN para Manaus reflete o atual período de avanços, quantitativos e qualitativos, da pesquisa educacional e das ações pós-graduadas que aqui se desenvolvem. Em 1986 a Universidade Federal do Amazonas teve seu projeto de Mestrado Acadêmico em educação recomendado pela CAPES e, em 2009 ocorreu o mesmo com o Doutorado em Educação.
Dentre os objetivos do EPENN está o fortalecimento dos programas de pós-graduação em educação e da pesquisa e da produção intelectual voltada para a área educacional e a sua realização reflete o compromisso dos profissionais da área em aprofundar seu conhecimento sobre a educação que se realiza nas regiões Norte e Nordeste, principalmente. A realização da vigésima edição no Estado do Amazonas é uma oportunidade para as academias discutirem e refletirem sobre questões atuais relacionadas ao desenvolvimento social da região, sobre as quais os pesquisadores da área educacional são chamados a se debruçar. Por isso sua temática central foi definida como “EDUCAÇÃO, CULTURAS E DIVERSIDADE”.

Para maiores informações: http://www.xxepenn.com.br/

quarta-feira, 30 de março de 2011

"Não tenho fé suficiente para ser ateu"

Havia dito para mim mesma que durante os poucos dias das férias deste ano não iria fazer leituras longas. Contudo, este livro me fez "quebrar a promessa"... Li em tão pouco tempo, com uma certa "gula", que nem senti as 440 páginas! rsrs
Pois é... que livro! 
Deu-me outro "chão", ampliou e muito minha leitura de mundo.
Assim, só posso, agora, deixar a indicação. Vale muito a pena ler! 


Ficha Técnica:
ISBN: 85-7367-928
Páginas: 440
Formato: 16x23cm
Categoria : Formação Teológica
Acabamento: Brochura
Autor: Norman Geisler & Frank Turek

Idéias com o objetivo de destruir a fé cristã sempre bombardeiam os alunos do ensino médio e das universidades. Este livro serve como um antídoto excepcionalmente bom para refutar tais premissas falsas. Ele traz informações consistentes para combater os ataques violentos das ideologias seculares que afirmam que a ciência, a filosofia e os estudos bíblicos são inimigos da fé cristã.

Antes de tocar a questão da verdade do cristianismo, essa obra aborda a questão da própria verdade, provando a existência da verdade absoluta. Os autores desmontam as afirmações do relativismo moral e da pós-modernidade, resultando em uma valiosa contribuição aos escritos contemporâneos da apologética cristã.

Geisler e Turek prepararam uma grande matriz de perguntas difíceis e responderam a todas com habilidade. Uma defesa lógica, racional e intelectual da fé cristã.

terça-feira, 29 de março de 2011

II Colóquio de Práticas Pedagógicas Inovadoras


    Os desafios do ensino superior na atualidade exigem práticas pedagógicas inovadoras, entendidas como aquelas que rompem com o paradigma da racionalidade técnica, baseado na lógica disciplinar e na transmissão de conteúdos dogmatizados. Tais práticas docentes oportunizam aos estudantes a construção de aprendizagens significativas na formação de profissionais desenvolvidas na universidade.
    O desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras pressupõe a reflexão crítica e consistente sobre a prática do docente universitário. Reflexão não como um ato isolado, mas como processo coletivo dialógico de questionamentos, descobertas e construções.
    O II Colóquio de Práticas Pedagógicas Inovadoras da Universidade visa assegurar um espaço privilegiado de troca e de aprofundamento dos saberes e práticas da docência universitária, contribuindo assim, para a sua valorização.

    Condições e critérios para a submissão de trabalhos

    Os trabalhos devem ser apresentados por professores do ensino superior incluindo ou não estudantes como co-autores. Neste caso no máximo 3 (três) estudantes.
    Estar inscrito no colóquio anexando no momento da inscrição resumo, texto completo (indicando eixo temático), comprovante de pagamento para o público externo à UNEB; a ser enviado para o e-mail: coloquio2011@gmail.com
    O texto deve conter relato analítico de prática de ensino-aprendizagem desenvolvida na graduação ou pós-graduação, incluindo objetivos; fundamentação teórico-metodológica; descrição e reflexão crítica sobre a experiência educativa e sua repercussão  na formação dos estudantes, bem como algum nível de avaliação destes a respeito de como a experiência impactou em seu processo formativo.
    Não serão aceitos relatos de pesquisa individual dos professores, mas sim, experiência refletidas (práxis) e desenvolvidas com a participação do conjunto dos estudantes da turma.
    O texto deverá ter de 8 a 15 laudas, fonte 12, Times New Roman, espaçamento de 1,5 seguindo normas da ABNT para artigo.
    O resumo deve ser enviado em arquivo separado do texto em formato doc, e ter cerca de 10 linhas, no máximo 250 palavras em fonte Times New Roman com corpo 12 e espaçamento simples.
    O texto do resumo deverá conter, obrigatoriamente, objetivos da experiência desenvolvida, breve informação da orientação teórica e metodologia adotada, além dos principais aspectos identificados a partir da reflexão crítica da experiência.
    Os textos aprovados farão parte dos anais do evento em forma de CD, incluindo ISBN.
    Os trabalhos aceitos serão apresentados, através de comunicação oral, em painéis organizados pela organização do evento em função dos eixos temáticos.


    Eixos Temáticos

    • Ensino envolvendo prática de pesquisa.
    • Projetos de pesquisa interdisciplinares.
    • Práticas significativas de avaliação de aprendizagem.
    • Ensino com experiência de extensão.
    • Práticas inovadoras no contexto do Estágio Curricular.
    • Ensino tendo como base as tecnologias de comunicação e informação.
    • Experiência que oportunizem a formação de atitude ética e a educação de valores entre estudantes.


    Programação


      23/11/201117h – Credenciamento
      18h – Atividade Cultural
      19h – Solenidade de Abertura
      19h30 – Conferência: A pesquisa como estratégia privilegiada de ensino na formação profissional. Profa. Dra Léa das Graças Anastasiou

      24/11/201108h – Comunicação oral
      12h – Intervalo para o almoço
      14h – Comunicação oral
      18h – Apresentação cultural

      25/11/201108h – Oficinas temáticas
      12h – intervalo para o almoço
      14h – Palestra de encerramento: Ética na Docência Universitária- Prof. Dr. Antonio Joaquim Severino
      15h30 – Avaliação do evento
      17h – Apresentação artística

      Inscrições

      Inscrições:
      Com apresentação de trabalho: 06/06/2011 a 01/09/2011
      Sem apresentação de trabalho: 01/06/2011 a 01/10/2011
      Divulgação dos resultados: 31/10/2011

      Taxas:
      Professores e estudantes da UNEB: Isentos
      Público externo: Professores R$ 70,00
      Estudantes R$ 35,00

      Forma de Pagamento:
      Depósito Bancário Identificado
      Banco do Brasil
      Agência: 3536-6
      Conta Corrente: 99.1145-6


      segunda-feira, 28 de março de 2011

      Quando a escola não educa, a vida ensina mais do que apenas ler...

      A sociologia estuda os fenômenos, as estruturas e as relações que caracterizam as organizações sociais e culturais. E mais, o cientista social pesquisa costumes e hábitos, além de investigar as relações entre indivíduos, famílias, grupos e instituições. 
      Enquanto estudantes, principalmente de pedagogia, bem como de outras licenciaturas, nos será necessário primeiro compreender cientificamente a sociedade, para depois compreender por que a educação brasileira está nessa barbárie. Além disso, sem entender este ponto, dificilmente se fará a diferença. O provável de um professor que não reflete sobre a sociedade, buscando estudar as teorias sociológicas, é contribuir para o caos, para a manutenção do status quo, para a infeliz educação, aquela conteudista e bancária, assim nomeada por Paulo Freire

      O vídeo abaixo expressa brilhantemente essa discussão sobre sociologia e educação:

      Filosofia: o que é isto?

      É a pergunta que não quer calar: 


      Ghiraldelli caracteriza e estabelece a filosofia como a desbanalização do banal.
      E eu, e você?
      Quanto a mim, estou construindo a partir de leituras, vivências e inúmeras reflexões o que vem a ser a filosofia. Só sei que essa "danada" é especial em minha vida... Inquieta-me de um jeito, estimula, encoraja, ah...! Enfim, aos poucos estou me tornando uma amante do saber!
      E quanto a você, já pensou nisso?

      Ah, a poesia...

      Um poema como "Foi um Momento" é para se ler em voz alta... Como diz Rubem Alves, "ouvir um poema pode ser uma experiência de amor (como no filme O carteiro e o poeta)".

      Foi um Momento

      Foi um momento
      O em que pousaste
      Sobre o meu braço,
      Num movimento
      Mais de cansaço
      Que pensamento,
      A tua mão
      E a retiraste.
      Senti ou não?

      Não sei. Mas lembro
      E sinto ainda
      Qualquer memória
      Fixa e corpórea
      Onde pousaste
      A mão que teve
      Qualquer sentido
      Incompreendido.
      Mas tão de leve!...

      Tudo isto é nada,
      Mas numa estrada
      Como é a vida
      Há muita coisa Incompreendida...

      Sei eu se quando
      A tua mão
      Senti pousando
      Sobre o meu braço,
      E um pouco, um pouco,
      No coração,
      Não houve um ritmo
      Novo no espaço?

      Como se tu,
      Sem o querer,
      Em mim tocasses
      Para dizer
      Qualquer mistério,
      Súbito e etéreo,
      Que nem soubesses
      Que tinha ser.

      Assim a brisa
      Nos ramos diz
      Sem o saber
      Uma imprecisa
      Coisa feliz.

      Fernando Pessoa

      O TATO


      "Educação dos sentidos e mais..." é um livro extremamente agradável. Basta ler algumas poucas frases para se sentir seduzido e sensivelmente envolvido com o assunto. Foi exatamente assim que me senti na última semana. Já estou na segunda parte, mais precisamente na metade da obra. Apesar da sobrecarga acadêmica de leituras, ousei ler por opção, sem a chata obrigatoriedade... A leitura de hoje foi sobre o tato, um sentido pouco estudado e que raramente, senão nunca, é associado à educação. Certamente, Rubem falará melhor sobre isso...

      O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre Eros e Tânatos. É através do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece.
      Escarafunchei minhas memórias de leitura e não encontrei nada que se referisse ao tato, exceto na poesia e na literatura. Um dos poemas de Fernando Pessoa que mais me comovem é construído a partir de uma experiência de um toque. “Foi um momento o em que pousaste sobre o meu braço, num movimento mais de cansaço que pensamento, a tua mão, e a retiraste. Senti ou não? Não sei. Mas lembro e sinto ainda qualquer memória fixa e corpórea onde pousaste a mão que teve qualquer sentido incompreendido, mas tão de leve!.. Como se tu, sem o querer, em mim tocasses para dizer qualquer mistério, súbito e etéreo, que nem soubesses que tinha ser.” ( Fernando Pessoa, Obra Poética, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, p.178 ) A mão toca o braço, sem pensar, para dizer... E daí surge um poema.
      O olhar pode revelar amor ou morte. Mas o olhar exige distância para ver. O olhar não toca. Os olhos, para ver, têm de estar distantes da pele. O olhar promete, anuncia, ou o carinho ou o soco. Mas o olhar não é nem o carinho e nem o soco. Carinho e soco são entidades do tato.
      A audição também. Ouvir um poema pode ser uma experiência de amor (como no filme “O carteiro e poeta”). Mas nenhum amante se contenta com a alegria que seus ouvidos lhe dão ao ouvir a voz da pessoa amada. A voz não basta. A conversa ao telefone é alegria. Mas o telefone terá de ser desligado sem que se realize a promessa de carinho que estava presente na voz. Beethoven escreveu uma sonata que recebeu o nome de “Sonata do adeus”. Ela se divide em três partes. Inicia-se com três acordes de profunda tristeza e que dizem vagarosamente “Le-be-wohl” – “Adeus”. O segundo movimento é a “Ausência” – um tempo melancólico de
      tédio. Distância vazia. E o terceiro, de esfuziante alegria, o “Retorno”. Retorno é poder abraçar de novo, tocar, acariciar, beijar, fazer amor... A alegria dos ouvidos é mendiga. Ela está sempre mendigando o toque. Recebi uma chamada telefônica a cobrar. Ao atendê-la ouvi uma voz desconhecida que me ameaçava com um “grupo fortemente armado” caso não atendesse suas exigências. Eu não disse nada. Só desliguei o telefone. A voz, sozinha, não pode cumprir suas ameaças. A voz não pode perfurar o meu corpo.
      O tato acontece quando a pele e, portanto, o meu corpo, é tocado por algo de fora (ou por ele mesmo...). Nisso está a sua delícia! Nisso está o seu perigo!
      A primeira experiência do nenezinho ao vir ao mundo é a experiência de tato. Sem nada saber, sua boquinha já mama um objeto ausente. Fome, dirão. Não tenho tanta certeza. Se fosse fome o nenezinho pararia de chorar somente depois que o leite fizesse seu trabalho tranqüilizador no estômago. Mas não é assim. O nenezinho para de chorar imediatamente quando sua boca se ajusta ao seio. É uma experiência tátil de tanto prazer que permanece gravada inesquecivelmente em nossa memória erótica. É por isso que, mesmo depois de desmamados, os nenezinhos continuam à procura da experiência tátil original, completamente dissociada do leite. Está aí o segredo das chupetas: foram inventadas para substituir o seio... Enquanto escrevia fiz uma experiência mental: imaginei-me chupando uma chupeta. Senti-me meio ridículo, mas gostei. Imaginei, então, que talvez as pessoas que lutam para deixar o cigarro pudessem encontrar satisfação para o seu desejo chupando uma chupeta... Quem sabe o seu mal é saudade do seio, de qualquer seio...
      E não será por isso que os homens sentem prazer em beijar o seio da mulher amada? Quando se beija o seio da mulher amada não se pode ver o seu rosto e não é preciso ouvir a sua voz.
      Mas o tato é, talvez, o sentido sobre o qual menos se tenha falado. Há uma filosofia dos olhos, uma filosofia do ouvido, uma filosofia da boca. Mas desconheço uma meditação filosófica sobre o tocar. E, no entanto, a pele é lugar de tantas alegrias. Lembro-me de uma cena do filme “Cidade dos Anjos”. Quando o Anjo Apaixonado resolveu tornar-se humano, mesmo ao preço de perder sua imortalidade, ele entrou no mundo desconhecido das delícias do tato. Há uma cena em que ele está tomando um banho de chuveiro. Ah! Que experiência assombrosa de prazer e alegria! E, no entanto, é uma experiência que temos diariamente.
      Acontece que, em nossos rituais, ela não é uma experiência erótica mas simplesmente um automatismo prático da caixa das ferramentas.
      Os prazeres do tato estão em todos os lugares. Só é necessário prestar atenção. Tive uma cólica renal. No hospital me trataram com buscopan. Uma injeção. Duas. Três. Quatro. Aí eu já estava verde e comecei a vomitar de dor. O médico disse à enfermeira: “Aplica uma dolantina...” Ela aplicou. Cinco minutos depois eu estava no paraíso. Senti, então, o insuperável prazer de simplesmente não ter dor!
      Mas o que é que o tato e a pele têm a ver com a educação? O que é que a pele tem a ver com as rotinas escolares? Sobre isso falaremos depois...

      Rubem Alves

      Os pecados do curso de Pedagogia


      Eis um dos textos mais incríveis que eu li durante as férias!

      O filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. aborda abaixo a infeliz realidade do curso de Pedagogia nas universidades públicas. Ora, por mais que a verdade doa, machuque e perturbe, precisamos despertar e buscar mudanças urgentes para tentar minimizar o caos na educação brasileira!  

      Caso eu tivesse de escolher um curso que gosto, mas que eu não faria, eu escolheria o curso de pedagogia. Ao menos não o faria se, para tal, eu tivesse de enfrentá-lo do modo como hoje este curso é desenvolvido na maioria das boas universidades. Do modo como ele tem caminhado, encontro cinco pontos problemáticos que parecem impossíveis de serem ultrapassados. Esses pontos giram em torno dessas cinco palavras: clássicos, estudo, infância, conteúdos e estágio. Olhando para essas palavras, fico com vontade de elencar cinco pecados do curso de pedagogia. Exponho-os de modo breve.
      Pecado 1: carência de leitura dos clássicos da educação.
      Como a maioria dos cursos de humanidades na universidade atual, o curso de pedagogia também cultiva a predileção pelos “textos”, em geral na forma criminosa da cópia Xerox, em detrimento dos livros. Pode-se fazer um curso completo na área de humanidades, principalmente de pedagogia, sem jamais ler um livro inteiro. Só se lê “textos”.
      Todavia, isso se agrava no caso da pedagogia porque os clássicos em educação não são priorizados. Chega-se ao ponto de não se conseguir nem mais falar de O Emílio de Rousseau. Platão, Santo Agostinho, Descartes, Kant, Herbart, Durkheim e Dewey – nem pensar!
      Não digo que os alunos não lêem coisas boas. Ao menos nas boas universidades, principalmente nas públicas, eles lêem. Mas eles saem sem ter lido o principal, o fundamental, mesmo que exista uma área chamada de “fundamentos da educação”. A formação teórica do pedagogo, em termos de um contato com a literatura dos clássicos, deixa muito a desejar. Isso coloca o pedagogo em desvantagem entre os profissionais do campo das humanidades. Não vejo nenhum movimento radical no sentido de mudar tal comportamento que vem se repetindo acentuadamente e que, agora, tendo o curso de pedagogia se transformado única e exclusivamente em um curso de formação de professores, parece que até piorou.
      Pecado 2: Excesso de entrega de trabalhos e falta de horas de estudo.
      A maioria dos cursos de uma boa universidade, especialmente as públicas, faz o aluno assistir muitas aulas, entregar muitos trabalhos, participar de um sem número de avaliações e, portanto, ficar com poucas horas para estudo e para o amadurecimento do que é aprendido.  No curso de pedagogia essa irracionalidade é extremamente acentuada. Há uma febre de atividades. Há um cultivo da entrega de trabalhos e mais trabalhos, resenhas (que se transformam em resumos) e mais resenhas para “se garantir a leitura” e, enfim, um tempo enorme de horas perdidas em aulas de “seminários” que, não raro, viram jogral.
      Os alunos são solicitados a entregar coisas aos professores. O volume é tão grande que os alunos logo percebem que o curso é irracional e, então, eles passam a tirar da Internet e copiar de veteranos o que precisam entregar. Fazem isso incentivados pelos próprios professores que trabalham com a “pedagogia bancária” e, esquizofrenicamente, se dizem adeptos de Paulo Freire.
      Terminado o curso de pedagogia, os alunos dizem francamente: “agora vou estudar, até então eu estava só me livrando do curso, tentando tirar nota e não ficar reprovado”. Todo bom estudante do curso de pedagogia sonha com o fim do curso para, então, começar a estudar e, enfim, aprender algo. É um paradoxo. Mas, nenhum professor do curso de pedagogia rompe com essa regra maldita. O reflexo disso é a monografia de fim de curso, em geral um texto sofrido, exatamente porque o aluno não conseguiu, em três ou quatro anos, amadurecer algo de modo a poder escrever um breve ensaio capaz de ser lido sem que o leitor tenha enjôo.
      O professor formado em uma universidade pública é um formador de opinião. No Brasil, muito mais, ao menos em potencial. No entanto, ele é castrado nessa sua atividade, pois ele não sai da universidade sendo capaz de produzir uma narrativa boa, gostosa e convincente a respeito do assunto que aprecia.
      Pecado 3: inexistência de estudos a respeito da infância.
      Apesar do curso de pedagogia formar professores que irão lidar com crianças, desconhece-se nesses cursos a infância. Fala-se em crianças como alunos, mas não se fala de infância. Quando se toca no termo infância, remete-se a uma noção naturalizada, não a uma noção que foi inventada e construída historicamente. Por isso, quando o curso de pedagogia mostra algo sobre a infância para os alunos, já o faz a partir de uma ótica um tanto enrijecida, com excesso de teorias naturalizadas e naturalizantes, vindas do guarda chuva da psicologia.
      O curso de pedagogia é, em geral, psicologizado e, então, quando apresenta para os futuros professores os seus futuros educandos, o faz segundo regrinhas de Piaget e Vygotsky, sem nunca se dar conta de que os seguidores destes foram enganados, pois não conseguiram levar a sério o que os historiadores estamparam nos seus rostos, principalmente a partir dos anos sessenta, com os escritos sobre a criação da infância de Philippe Ariés. Por isso mesmo, há inúmeros livros de didática (Libâneo à frente) que jamais falam de infância, e se prendem demais às “tendências e correntes da pedagogia”. Ora, mas para que servem essas tendências senão para que a infância ocorra, aconteça, ou seja, para que exista um trabalho sobre seres que são qualificados como infantis. Não! Os textos de didática, no geral, cedem para a psicologia o direito de falar de infância e a psicologia, por sua vez, fala apenas de montagens de seres que passam por “assimilação” e “adaptação” etc. A infância não é questionada pelo curso de pedagogia que, no entanto, tem como objetivo gerar pessoas que vão cuidar da infância.
      Pecado 4: o curso de pedagogia é negligente quanto aos conteúdos do ensino fundamental.
      Agora, na sua nova formulação, que o faz formador de professores, o curso de pedagogia é um curso que cai nos braços da metodologia da matemática, das ciências, da língua pátria etc. Mas, na verdade, uma boa parte dos seus alunos não sabe matemática do ensino fundamental ou ciências do ensino fundamental. Os alunos, quando fizeram o ensino médio, não foram brilhantes alunos nessas áreas. Já no vestibular isso fica claro. Mas, mesmo sem saber fazer as operações básicas, sem conhecer regras básicas da língua pátria e, enfim, não sabendo nada de ciências, eles se acham aptos para estudar as metodologias variadas desses campos. Há até professores que ousam dizer que tais metodologias estão fundadas nesta ou naquela epistemologia! Os alunos são transformados em epistemólogos e metodólogos da matemática, mas saem do curso incapazes de extrair uma raiz quadrada. Aliás, acabam por não saber o que é uma raiz quadrada! Talvez essa seja uma das maiores falhas do curso de pedagogia na atualidade, que reflete muito bem no pouco gosto do brasileiro pelas ciências, português e matemática.
      Pecado 5. Excesso de estágio.
      O curso de pedagogia se transformou (a partir do MEC da gestão Lula) antes em um curso de formação de estagiários que em um curso de formação de professores. São 400 horas de estágio. Por quê? Porque quem concebeu isso jamais entendeu o que é a escola ou o professor, e adaptou a noção de estágio da área empresarial, de engenharia ou medicina, para o curso de formação de professores.
      Um médico precisa de dois anos de residência, pois ele não viveu em um hospital a vida toda, dado que não foi um doente, um internado a vida toda. Mas, no caso de quem faz estágio na escola, 400 horas é muito por que todos que estão no ensino superior ficaram no mínimo 11 anos na escola. Para que voltar para a escola, observando e observando e observando, em uma atividade que só tira o aluno do estudo (e que todos dizem que é inútil) se ele, aluno, três anos atrás, estava naquela sala observando? Ele já observou tudo aquilo durante uma vida toda! Ora, que ninguém venha aqui com a idéia de que voltar à escola é bom, pois se trata de um retorno com “outros olhos”. Quem me retruca assim supõe um aluno imbecil, que não tem memória, que não sabe, com sua teoria, pensar o que ele viveu como aluno no passado. Ora, se não sabe, seu professor, no curso de pedagogia, poderia trabalhar isso. Mas fazê-lo voltar para a escola na qual ele esteve até ontem, é não entender a nossa capacidade de “re-significar experiências passadas” que, enfim, era o que John Dewey dizia que é a educação.
      Podíamos ter um melhor ensino do mundo se conseguíssemos escapar desses cinco pecados no Brasil. Mas duvido que façamos isso, adoramos ser pecadores aqui do lado de baixo do Equador.
      © 2010 Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo, escritor e professor da UFRRJ
      http://ghiraldelli.pro.br/ 

      sexta-feira, 25 de março de 2011

      ArTe É EdUcAÇãO!!!

      Às vezes eu fico tão "boba" ao ter contato com certos assuntos e conceitos. Durante as férias procurei vídeos sobre arte-educação, uma vez que me matriculei na disciplina para este semestre letivo. Então lá fui eu procurando discussões sobre a temática para não ficar "voando" nas aulas... O vídeo abaixo me deixou extasiada! Tão boba que cheguei a escrever palavra por palavra que o consultor dizia. Veja:

       

      EDUCAR COM OS OLHOS

      "Há muitas pessoas com a visão perfeita que nada vêem..."

      A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS

      No dia 23 deste mês foi meu niver, eu ganhei muitos presentes, mas um em especial me tocou intensamente. Foi o livro "Educação dos sentidos e mais...", de Rubem Alves. Já comecei a ler, apesar de ter outros tantos textos da faculdade para estudar... Enfim, Rubem tem um blog (link abaixo), achei um pouco sobre o livro e resolvi compartilhar. Lê e comenta, não é show?! :) 

      Eu disse “caixa das ferramentas” e “caixa de brinquedos”. Santo Agostinho disse “ordem da utilidade e “ordem da fruição”. Freud disse “princípio da realidade” e “princípio do prazer”. Martin Buber disse “o mundo do ‘isso’ e “o mundo do ‘tu’”. É tudo a mesma coisa.
      Mas quem disse primeiro foram as Escrituras Sagradas. Elas contam que Deus estava infeliz. O vazio em que vivia lhe dava tédio. Por isso teve um sonho. Sonhou com um jardim – pois não há nada que dê mais alegria que um jardim. Decidiu-se, assim, a plantar um jardim para ficar alegre. Começou nos confins do vazio, criando as grandes estrelas, o sol, a lua, e foi afunilando, afunilando, até chegar a um lugar bem pequeno onde plantou o seu sonho: o Paraiso. Fontes, árvores frutíferas, flores, pássaros, borboletas, animais de todo tipo, e até um vento fresco e perfumado que soprava nas tardes. Cecília Meireles resumiu essa estória num minúsculo poema enorme: “No mistério do Sem-Fim equilibra-se um planeta. / No planeta, um jardim./ No jardim, um canteiro. / E no canteiro, o dia inteiro/ Entre o mistério do Sem-Fim e o planeta / A asa de uma borboleta...” Era o jardim das delícias, destino dos homens, destino do universo, o destino de Deus! O Paraíso era melhor que o céu. Prova disse é que Deus passeava pelo jardim ao vento fresco da tarde... Terminado o seu trabalho de seis dias Deus parou de trabalhar. Entregou-se então àquilo para que o trabalho havia sido feito: uma deliciosa vagabundagem contemplativa. Os olhos olharam para o jardim e experimentam o êxtase da beleza! “E viu Deus que era muito bom...” Os olhos de Deus brincavam com o jardim. Nada havia para ser feito. Havia tudo para ser gozado.
      Nos limites do meu conhecimento Jacob Boehme (1575-1624) foi o único teólogo que entendeu isso. Herética e eroticamente ele disse que a única coisa que Deus faz é brincar e que o Paraíso era um lugar para que os homens brincassem uns com os outros e com as coisas ao seu redor. Homem e mulher: para que um brincasse com o corpo do outro... Perderam o Paraíso quando desaprenderam a arte de brincar...
      Os poemas sagrados colocam as coisas na ordem certa. A semana bíblica começa com os dias de trabalho e termina com o dia de gozo. A igreja alterou essa ordem. Primeiro o dia da contemplação: o corpo descansa para trabalhar melhor...
      A forma como as ferramentas são aprendidas é muito simples. Tudo começa com o sonho. O corpo sonha. Pois, como Freud percebeu, ele é movido pelo “princípio do prazer”. O sonho é o meu pequeno paraíso. Se fôssemos feiticeiros, se tivéssemos o poder mágico dos deuses, bastaria dizer o sonho em voz alta para que ele se realizasse. Mas, infelizmente, somos fracos seres humanos e temos necessidade de pensar. O sonho dá ordens à inteligência: “Pense, invente as ferramentas de que necessito para realizar o meu sonho”. Aí a inteligência pensa. Se o sonho não existe é inútil dar ordens à inteligência. Ela não obedece. Veio-me a idéia de que a inteligência muito se parece com o pênis. Não se assustem: o mundo está cheio das analogias mais estranhas... Pois, o que é o pênis? É um órgão que, no seu estado normal, é um apêndice ridículo, flácido, que realiza funções excretoras automáticas, que não demandam grandes reflexões. Mas, se provocado pelo desejo, ele passa por curiosas metamorfoses hidráulicas que lhe dão a capacidade de ter prazer, de dar prazer e de criar vida. Se não há desejo é inútil que a cabeça lhe dê ordens... Assim também é a inteligência. No cotidiano ela se encontra num estado flácido que é mais do que suficiente para a realização das tarefas rotineiras. Quando, entretanto, é provocada pelo desejo, ela cresce e se dispõe a fazer coisas ditas impossíveis. Assim viu Fernando Pessoa que disse “Sinto uma erecção na alma”... Uma inteligência flácida é uma inteligência sem desejo. Meu amigo Eduardo Chaves observou que, ao contrário do que anuncia o best-seller Inteligência emocional, a verdade é o oposto. Não há inteligência emocional. A inteligência jamais procura a emoção. É a emoção que procura a inteligência. É a emoção que deseja ser eficaz para realizar o sonho.
      Mas a capacidade de brincar também precisa ser aprendida. E ela tem a ver com a capacidade de o corpo ser erotizado pelas coisas à sua volta, de sentir prazer nelas. Nossos sentidos - a visão, a audição, o olfato, o tato, o gosto – são todos órgãos de fazer amor com o mundo, de ter prazer nele. Mas não basta ter olhos, nariz, ouvidos, língua, pele... Os sentidos, no seu estado natural, podem sofrer daquela flacidez sobre que falamos... Roland Barthes sugeriu então que a educação dos sentidos fosse semelhante ao kama-sutra, o ensino das várias posições possíveis de se fazer amor com o mundo. Mas isso, é claro, exige que os professores sejam mestres na dita arte...

      Rubem Alves

      http://www.rubemalves.com.br/aeducacaodossentidos.htm

      Oi...


      Quero dar as boas vindas!

      Este blog é o resultado de uma mistura prazerosa, interdisciplinar e, de certo modo, desafiadora!

      A intenção principal dele é a difusão do conhecimento, o compartilhar de saberes e de experiências...

      Uma Junção de Pedagogia, Filosofia e Letras... Minhas paixões, meu deleite, e satisfação... (No entanto, essas "belezinhas", muitas vezes, me causam também muita confusão!)

      Mas afinal, o que sairá desse "balaio" todo? Hum...

      Fique à vontade... Aprecie um pouco dos meus estudos, leituras e afins...

      Relaxe e divirta-se!!!