quinta-feira, 31 de março de 2011

Ensino a distância

por Ana de Fátima Souza

Para onde vai a educação?

Os Jetsons
Aprendizado high-tech do desenho futurista ainda está longe da realidade
Quando se fala em futuro da educação a distância, é comum fazer previsões assustadoras e acreditar numa cultura dos Jetsons, em que crianças aprendem mais com robôs do que com humanos e a vida é orientada pelas tecnologias de ponta. Até bem pouco tempo essa era uma imagem do que seria o século 21 e, para a decepção da maioria, ainda se vive de forma muito parecida à geração anterior. Houve muita evolução no campo da tecnologia, sim. Mas as descobertas de última geração ainda são pouco acessíveis em um país como o Brasil.

No campo da educação, a inclusão ainda é restrita. Apenas 8% dos jovens brasileiros estão freqüentando escolas de ensino superior. Na Argentina este número salta para 30%. "Enquanto o Brasil não levar a sério sua universidade, não sairemos desse quadro", acredita o presidente da Abed, Fredric Litto, que é um dos mais empolgados defensores de uma evolução radical do conhecimento. "Acho que estamos cada vez mais próximos de uma realidade semelhante à do filme 'Matrix', em que chips são instalados e o indivíduo pode simular ambientes de aprendizado. Os laboratórios têm pesquisas avançadas neste campo de conhecimento, mas é preciso que o cidadão comum e os governos estejam preparados para as transformações", diz.
Discursos mais moderados apontam que por muito tempo o ensino não-presencial poderá ser uma importante ferramenta complementar para a educação tradicional. "A educação a distância ainda é muito mais interessante para aqueles que têm necessidades muito específicas, como concluir uma pós-graduação e se tornar mais preparado para o mercado da era digital", diz René Birocchi, do IUVB.
Na mesma linha segue o sociólogo, matemático e pensador francês Michel Authier: "A educação a distância é muito válida para quem tem uma necessidade específica de aprendizado. Esta forma de educação ainda não é capaz de socializar o indivíduo, de ensiná-lo a se relacionar com os outros, a praticar esportes vitais para o desenvolvimento. Esse conhecimento continuará sendo fornecido no convívio real com seres humanos. Isto ainda é fundamental para o desenvolvimento do homem", garante.
A área em que talvez se veja uma grande evolução é a da educação a distância voltada aos interesses empresariais. "Neste caso, a busca é muito mais intensa. O profissional que já está no mercado precisa correr contra o tempo para se especializar e se tornar mais competitivo", diz Birocchi, que faz pesquisas neste campo dentro da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.
Investimentos de bilhões de dólares por parte das grandes corporações podem levar os desenvolvedores de ferramentas para EAD a descobrir novas linguagens para a formação de profissionais. "Isso vai acabar se refletindo nos cursos de graduação e até mesmo nos ensinos fundamental e médio, mas é uma transição longa do que temos hoje para o que será a educação a distância do futuro", aposta Birocchi. "Estamos falando de uma mudança na forma de encarar a aprendizagem. Isso exige a quebra de uma série de valores sociais e culturais. E esse tipo de quebra acontece de forma muito lenta", acredita.


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