quarta-feira, 4 de maio de 2011

Filme O Contador de Histórias



O filme se baseia na trajetória real do pedagogo, escritor e contador de histórias Roberto Carlos, de filho de família paupérrima, interno da Febem e menino de rua a homem bem sucedido, pai adotivo de um bocado de crianças, educador permanente para a cidadania. Como num conto de fadas, a história de Roberto Carlos teve sua fada madrinha: a francesa Marguerite Duvas (interpretada por Maria de Medeiros), para quem o garoto, de objeto de pesquisa, se transforma em amigo e protegido. Marguerite fez de tudo para tirar Roberto Carlos das ruas e fazê-lo tomar consciência de direitos e obrigações.

Por incrível que pareça, a maior falha é exatamente a força de Marguerite, não por falha da atriz, mas da construção da personagem pelo próprio roteiro. O contador de histórias baseia-se nas memórias de Roberto Carlos. E para ele, ela foi quase uma santa. Talvez tenha sido; mas de um ponto de vista dramatúrgico, fica difícil ao espectador acreditar na possibilidade de alguém tão perfeito, tão bom, tão desprovido de ódio, raiva, dúvida.

A falha fica insignificante frente à capacidade que O contador de histórias tem de emocionar os espectadores. É, talvez, a melhor manifestação produzida no Brasil do filme “edificante”, aquela narrativa de história exemplar que pretende levar o público a algum tipo de mobilização. O diretor Luiz Villaça trabalha com uma linguagem simples, com boas chances de se comunicar com o espectador comum. Conta, antes de tudo, com a força de seu próprio enredo para fazer isso.

No processo, acaba dando pinceladas num retrato que pode ajudar as pessoas a conhecer o Brasil. A história de Roberto Carlos começou na época da ditadura militar, quando o governo autoritário propunha, como parte de seu projeto de “Brasil grande”, instituições que fossem capaz de internar e educar os filhos das famílias pobres, como se o Estado fosse mais apto que pais e mães para superar a pobreza e a marginalidade crônicas.

Era um período em que esquerda e direita apresentavam projetos totalizadores de transformação do mundo inteiro. Roberto Carlos foi salvo pelo projeto oposto: onde a megalomaníaca estrutura assistencial do poder público fracassou, ela se dispôs a redimir apenas uma criança. Como, mais tarde, seu filho adotivo, ainda menino, não vai lutar para enfrentar todos os marginais de rua, apenas para recuperar o isqueiro que um deles roubou. E, agora adulto, não anda por aí pregando grandes revoluções – mas revolucionando, uma a uma, a vida das crianças a quem conta histórias, a quem ajuda a transformar em cidadãos. Segue trailer:



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