sexta-feira, 9 de março de 2012

Ciclo Mutações elogio à preguiça - Curadoria: Adalto Novaes



Salvador | 20 de março a 12 de abril de 2012
Curadoria: Adauto Novaes


Elogio à preguiça 


O trabalho deve ser maldito,
como ensinam as lendas sobre
o paraíso, enquanto a preguiça
deve ser o objetivo essencial do
homem. Mas foi o inverso que
aconteceu. É esta inversão que
gostaria de passar a limpo.



Malevitch, A preguiça como verdade definitiva do homem


Começa no próximo dia 20 de março, terça-feira, no Salão Nobre da Reitoria da UFBA, mais um ciclo de conferências idealizado e dirigido por Adauto Novaes, Mutações: elogio à preguiça.


A professora Olgária Matos abre o ciclo, no dia 20, às 19 horas, com a palestra “Educação para a preguiça”.


Seguem-se as palestras, sempre às 19 horas:


Rousseau e os devaneios do caminhante solitário, por Franklin Leopoldo e Silva
21 de março / QUA


Dizer sim ao ócio ou “Viva a preguiça!”, por Oswaldo Giacoia Junior
22 de março / QUI


Poesia e preguiça, por Antonio Cicero
26 de março / SEG


O esgotamento da ética do trabalho, por Vladimir Safatle
27 de março / TER


A moderna experiência do progresso, por Marcelo Jasmin
28 de março / QUA


Sexo, preguiça, bonheur , por Jorge Coli
02 de abril / SEG


O leitor preguiçoso, por Francisco Bosco
03 de abril / TER


Sobre inércia e estabilidade, por Luiz Alberto Oliveira
04 de abril / QUA


Experiência de improdutividade, por Guilherme Wisnik
10 de abril / TER


Sobre a virtude da lentidão, por João Carlos Salles
11 de abril / QUA


Da preguiça como metafísica, por Renato Lessa
12 de abril / QUI


Elogio à preguiça é uma realização da Artepensamento, do Sesc São Paulo, da Casa Fiat de Cultura e da Caixa Cultural e Ministério da Cultura. Na Bahia, é promovida especialmente pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
Adauto Novaes fala sobre o novo ciclo: “A proposta de um ciclo de conferências sobre a preguiça pode parecer estranha. Talvez fosse mais correto refletir sobre seu oposto, o trabalho, uma vez que os sociólogos dizem que nunca se trabalhou tanto como hoje. Mas, por estar tão próximo e envolvido, de corpo e alma, nas ideias de progresso e na construção da civilização técnica, muitas vezes o trabalhador perde a con¬sciência da sua condição. O mundo do trabalho recebe de cada trabalhador sua força, sua ação e seus impulsos. A existência deste mundo, tal como o vemos, será tão mais potente quanto mais ignorarmos que ele vem de nós, de nosso espírito. A escolha do ocioso não é, pois, arbitrária: ao se pôr à distância, ele pode ver melhor as contradições e dizer qual o sentido da vida no mundo do trabalho incessante. E talvez dar razão a Albert Camus: “São os ociosos que transformam o mundo porque os outros não têm tempo algum”.
A série sobre as Mutações começou em 2007, com o ciclo Mutações – novas configurações do mundo e analisou de que maneira a ciência e a técnica estão produzindo transformações em todas as áreas da atividade humana; em 2008, Mutações - a condição humana analisou o que é viver neste mundo, dominado pela tecnociência; no ciclo de 2009, o tema foi o vazio do pensamento, em Mutações – a experiência do pensamento; em 2010, o debate foi sobre o papel das crenças ativas e passivas em Mutações – a invenção das crenças chega. Em 2011 Elogio à preguiça vai refletir sobre a condenação da preguiça, pelo mundo do trabalho mecânico e da importância do ócio no desenvolvimento do trabalho intelectual e artístico.
“Sabe-se que uma única palavra é suficiente para arruinar reputações e, entre todas, a preguiça é, certamente, uma das mais suspeitas e perigosas. Dela decorre longo cortejo de acusações bizarras, mas também noções de obras de arte, poesia, romance, pinturas, reflexões filosóficas: o preguiçoso é indolente, improdutivo, nostálgico, melancólico, indiferente, distraído, voluptuoso, incompetente, ineficaz, lento, sonolento, silencioso: quem se deixa levar por devaneios. Apesar da oposição, preguiça e trabalho guardam um misterioso parentesco, quase simétrico e especular. A vida íntima que a preguiça leva com o trabalho pode-nos revelar que o preguiçoso trabalha muito. Como?
Para o preguiçoso, “é preciso ser distraído para viver” (Paul Valéry), afastar-se do mundo sem se perder dele, sendo ele, exatamente por isso, acusado de em nada contribuir para o progresso. Além de praticar crime contra a sociedade do trabalho, o preguiçoso comete ainda pecado capital. Pela lógica do mundo do trabalho e da Igreja, o preguiçoso deve, portanto, sentir-se culpado e pagar pelo que não faz.”




Informações:
Secretaria da FFCH-UFBA (71)3283.6431
das 8h30 às 12h30
(Ver também o folder abaixo, com a descrição das palestras)


Inscrições:
no site da FAPEX: www.fapex.org.br/mof


Maiores informações:
http://www.ffch.ufba.br/spip.php?article601

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Bel Borba (se) expõe AQUI, em Sete Elementos

Permanência: De 13/01/2012 a 23/03/2012
Valor: Só a "boa vontade"... rsrs é GRÁTIS!!!

Estive recentemente nesta exposição e me surpreendi! A surpresa não foi por subestimar o talento e potencial artístico de Bel Borba. Mas o que me deixou extasiada foi a utilização de diversos materiais nas obras. Vi, por exemplo, tapetes, fotografias (de várias pessoas desdentadas, sem dente mesmo!), azulejos e, inacreditavelmente, feixes de luz como se fossem as pinceladas ou rabiscos de um quadro... Não dá para descrever bem, somente apreciando ao vivo, sentindo a exposição, é possível compreender. Outra visão completamente inesperada: AS RUÍNAS DA FONTE NOVA tranformadas em peças inusitadas e impressionantes. Belíssimas. Quanta inventividade! É a exposição mais pesada já feita aqui em Salvador. Como se não bastassem os magníficos mosaicos feitos pelo artista, ao longo da exposição, é possível conhecer o "Bel Poeta"... Isso mesmo! Existem vários trechos que revelam toda a poesia presentes na subjetividade e na arte desse baiano arretado.  

Hum... Depois dessas minhas poucas e insinuantes palavras, se ainda não estiver tentado a conhecer, viver essa delícia de exposição, seguem abaixo algumas imagens e informações mais técnicas (cedidas pelo próprio Museu)...

 
A criatividade de um dos mais completos artistas baianos ganha mostra no Palacete das Artes Rodin Bahia e faz a Fonte Nova ressurgir dos escombros


O universo é formado por quatro elementos: fogo, terra, ar e água. Há quem acredite que são cinco. O universo de Bel Borba é formado por sete. Sete “Belementos”, de acordo com Burt Sun, curador da exposição que foi inaugurada no dia 13 de janeiro pelo Palacete das Artes Rodin Bahia / Diretoria de Museus do IPAC e SECULT/BA que promovem o evento.

Aqui, em Sete Elementos é o nome da mostra que espelha a própria vida e obra do artista e traz à tona a forma como Bel vê e se relaciona com o próprio mundo. Serão setenta dias – ou um piscar d’olhos – para conferir a diversidade de Bel Borba, suas múltiplas facetas, a partir de sua produção mais atual, separada em grupos criativos, os tais Belementos: Fonte Nova, Traço de Luz, Tapetes Voadores, Bela, Treeth (do inglês tree+teeth), Azulejo da Vida e Cidade.A exposição fica aberta ao público até o dia 23 de março de terça a domingo das 10h às 18h.

Cápsula do Tempo

“Tudo à nossa volta tem, em si, uma quantidade incrível de informações, uma narrativa própria. É preciso estar atento para perceber”, considera o artista. A maior prova desse pensamento está nesta que, se não é a maior, possivelmente é a exposição mais “pesada” que Salvador já viu.
Logo na entrada, paredes pretas contrastam com peças alvas com mais de cinco metros de altura, quase três metros de base e mais de sete mil quilos de peso. É a Fonte Nova que ressurge diante do público, em monólitos lapidados minuciosamente por Bel e que parecem ainda vibrar a emoção que está guardada ali. Blocos remanescentes das colunas que sustentaram um templo de paixões para os baianos e que agora, como cápsulas do tempo, nos conduzem da perplexidade a um contato inevitável com sensações íntimas, anseios, lembranças. “Quando eu olho para esses destroços, eu posso ouvir o som e os ecos das pessoas que em algum momento ali estiveram, choraram, gritaram com euforia, brigaram…”, conta o artista. “Acredito que o público vá sentir o mesmo”, incita.
Estamos acostumados ao Bel que recicla e ressignifica a matéria comum, assim como símbolos e o próprio tempo guardado na memória de quem observa suas criações. Mas desta vez ele vai além e consegue nos fazer reviver – coletivamente – um ícone, a partir das vivências pessoais de quem visite a exposição. Não seria exagero dizer que o próprio Bel se superou.
Mesmo tendo acompanhado todo o processo, o curador da mostra conta que ficou de queixo caído quando viu o resultado. “É muito expressivo e surpreendente em cada detalhe”, justifica. Para o galerista Paulo Darzé, Aqui, em 7 elementos apresenta “trabalhos de altíssima qualidade e valor criativo e que só um artista senhor do seu fazer, um artista pleno, poderia produzir”.

Mundo de Bel


“No mundo de Bel não há limites de onde ele pode tirar inspiração. Presenciar seu processo criativo é como testemunhar um ato de magia”, analisa Burt Sun, que convive com Bel Borba há cerca de seis anos, quando se surpreendeu com a qualidade das obras do artista espalhada pela cidade. Daí nasceu a ideia para um filme – Bel Borba Aqui – trabalho que pretende documentar o dia a dia de Bel e seu processo criativo para encontrar de que modo isso reflete sua paixão por Salvador.
Foi o conceito do filme e os trabalhos que foram sendo produzidos para ele que inspiraram a exposição. “Queremos que o público sinta como Bel produz suas obras e consegue solidificar ideias em algo concreto”, revela Burt. Pequenos trechos já filmados estarão na mostra, em forma de vídeo-instalação.
Apesar do grande impacto da mostra, o passeio pelas obras revela muito do perfil bem humorado e divertido do artista. O que você acharia de encontrar uma sala repleta de fotos de gente banguela sorrindo? Essa é parte do inusitado de Treeth. Sobre os azulejos Bel desenha uma story board autobiográfica com traço inconfundível. O curso da vida também está presente em Bela, seção em que homenageia a filha pequena. Enaltece o bairro do Rio Vermelho, que tanto ama, em uma brincadeira com luzes usadas para compor imagens de seu imaginário.
Com os Tapetes Voadores ele cria jogos e mensagens sobre temas como religiosidade e metafísica. Por fim, Cidade é uma tentativa de definir como Bel está impregnado de Salvador, assim como a cidade também está repleta dele: um mapa da capital baiana vai ilustrar, a céu aberto, os 35 anos de arte de Bel, tendo a cidade como musa, parceira e galeria. “Nossa expectativa é de que, após visitar a exposição, o público seja estimulado a caminhar pelas ruas e vivenciar a cidade através das obras e da visão de um apaixonado por Salvador”, explica Burt.
Aqui, em Sete Elementos revela a nova experiência do artista em seu encontro com a morte, amor, luxúria e renascimento. Momento em que seu trabalho alcança grande maturidade e sua vida pessoal passa por mudanças significativas, como a morte da mãe e o nascimento da primeira filha, aos cinquenta e quatro anos.

Sobre Bel Borba


O fotógrafo e consultor de arte Burt Sun, responsável pela organização da exposição, vive entre Nova Iorque e Salvador e transita em galerias americanas, européias e brasileiras. Mesmo com convivência de amigo, ele diz ainda ficar deslumbrado com a forma como Bel cria e recria objetos e símbolos que podem ser facilmente compreendidos e decifrados por todos.
Bel Borba e sua arte urbana se insurgem contra o panorama ameaçador da cidade, com invasão de automóveis, velocidade perigosa, engarrafamentos, deserto de pessoas e muitas formas de violência, na opinião do Secretário de Cultura, Albino Rubim. “Sua rebeldia traduzida em marcantes intervenções produz experiências, sentidos e olhares (…) produz significados e sentimentos de pertença na devastadora selva de pedra, árida de sentidos. Sua singular intervenção reanima e revitaliza os espaços públicos”, considera o secretário.
“Para o Palacete das Artes Rodin Bahia é uma honra receber esse irrequieto e inventivo artista que faz das ruas das cidades suas galerias”, declara Murilo Ribeiro, diretor do Museu. Paulo Darzé complementa: “A obra de Bel Borba é um presente para a cidade e bastaria isto para colocá-lo como uma das maiores expressões na arte do Brasil”.

SERVIÇO
O QUE: Bel Borba na exposição AQUI. em 7 elementos (curadoria de Burt Sun)
ONDE: Palacete das Artes Rodin Bahia [mapa] Rua da Graça 284, Graça, Salvador -Bahia
QUANDO : De 13/01 a 23/03 de março de 2012 DE TERÇA A DOMINGO DAS 10H ÀS 18H

REALIZAÇÃO: PALACETE DAS ARTES RODIN BAHIA/ DIMUS/IPAC/SECULT/BA
ASCOM/ PALACETE DAS ARTES RODIN BAHIA
JORN.Susana Serravalle
Tel: * ( 71) 3117- 6997
Para fazer download do catálogo da exposição, acesse o link:


A Condição Humana – Hannah Arendt


A partir deste semestre (2012.1) iniciarei nos estudos desta obra. Depois de muuuuuuuuuuuuito tempo de "abandono" do Pedafilôletras, não poderia me isentar desta partilha... O livro é um clássico do séc. XX, já havia lido dois capítulos anteriormente, percebi, com isso, que trata-se de um dos mais belos escritos de Hannah Arendt. Espero que esta postagem anime novos possíveis leitores! :)

Ao começar sua obra, “A condição humana”, Hannah Arendt alerta: condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do homem. As condições variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem é parte. Nesse sentido todos os homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros tornam-se condicionados pelo próprio movimento de condicionar. Sendo assim, somos condicionados por duas maneiras:
1.Pelos nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos, em suma os aspectos internos do condicionamento.
2.Pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família; são os elementos externos do condicionamento.
Hannah Arendt organiza, sistematiza, a condição humana em três aspectos:

•Labor
•Trabalho
•Ação

O “labor” é processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie humana. O “trabalho” é atividade de transformar coisas naturais em coisas artificias, por exemplo, retiramos madeira da árvore para construir casas, camas, armários, objetos em geral. É pertinente dizer,- ainda que sedo-, para a autora, o trabalho não é intrínseco, constitutivo, da espécie humana, em outras palavras, o trabalho não é a essência do homem. O trabalho é uma atividade que o homem impôs à sua própria espécie, ou seja, é o resultado de um processo cultural. O trabalho não é ontológico como imaginado por Marx. Por último a “ação”. A ação é a necessidade do homem em viver entre seus semelhantes, sua natureza é eminentemente social. O homem quando nasce precisa de cuidados, precisa aprender e apreender, para sobreviver. Qualquer criança recém nascida abandonada no mato morrerá em questão de horas. Por isso dizemos que assim como outros animais o homem é um animal doméstico, porque precisa aprender e apreender para sobreviver. A mesma coisa não acontece com aqueles animais que ao nascer já conseguem sobreviver por conta própria, sem ajuda. A qualidade da ação supõe seu caráter social ou como escreve Hannah, sua pluralidade.

 
Texto disponível em: <http://desenvolvimentoemquestao.wordpress.com/2010/01/18/a-condicao-humana-%E2%80%93-hannah-arendt/>

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia



I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia 

     Apresentação

O “I Colóquio Nacional do Ensino de Filosofia: o que queremos com o filosofar na Educação Básica?” é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Epistemologia do Educar e Práticas Pedagógicas e do Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC), em parceria com o GT: Filosofar e Ensinar a Filosofar, da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof). É financiado pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC-BA) e pela Coordenação de Apoio de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e tem o apoio institucional da Universidade Federal da Bahia (Ufba), da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba).

O evento foi pensado com o propósito de reunir pesquisadores, estudantes de pós-graduação e graduação, educadores da rede de ensino pública e privada, e outros interessados em discutir problemas em torno do ensino de Filosofia na Educação Básica.
O evento será realizado nos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2011, na Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem) e na Faculdade de Educação da Ufba, em Salvador. Será constituído de conferências, palestras, mesas redondas, oficinas, e mini-cursos, em prol de atender às emergentes demandas que permeiam o ensino de Filosofia na Educação Básica. 

Dessa maneira, será um momento oportuno de interlocução entre a Universidade e a Escola Básica Brasileira, para criar redes de pesquisa e de conhecimentos a fim de proporcionar possibilidades para novas discussões metodológicas no âmbito do ensino de Filosofia no país, principalmente, no que concerne à lacuna existente entre o currículo da licenciatura em filosofia e a matriz curricular do Ensino Médio.

Objetivos
  • Compartilhar discussões e experiências, desenvolvidas por pesquisadores nacionais e internacionais, com reconhecida produção na área, contemplando debates especializados sobre pesquisas e estudos atuais no campo do ensino de Filosofia. 
  • Debater sobre formas de colaboração para a construção de uma proposta de formação ética e humana, visando compreender o papel da universidade, da escola e dos seus atores na constituição do ensino da Filosofia para Educação Básica.
  • Discutir sobre a aula de filosofia como acontecimento, entre o passado (o planejamento respaldado na matriz curricular), o presente (o método: a aula) e o futuro (avaliação).
  • Reavaliar as abordagens nacionais dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e LDB no 9.394/1996 diretamente ligadas ao ensino de Filosofia na Educação Básica.
  • Ampliar as discussões e avaliar as experiências formativas dos licenciandos em filosofia, e também no Programa de Iniciação à Docência – Pibid, estreitando relações entre a Academia de Filosofia e Academia de Educação.
  • Ratificar e aprofundar as reflexões relativas ao 5o objetivo estratégico da Unesco, da área das ciências humanas e sociais no Brasil. Neste sentido, o evento contribuirá na ampliação do conhecimento da filosofia para a formação, especialmente de adolescentes e jovens.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Escrever é preciso: o princípio da pesquisa - Mario Osorio Marques

Escrever é preciso!!!

Por Maria Helena Bonilla
 
Escrever é preciso: o princípio da pesquisa é um livro do saudoso professor Mario Osorio Marques (meu professor no Mestrado em Educação nas Ciências, da Unijui), publicado pela Ed. Unijui em 1997. Neste início de semestre, retomando minhas aulas na UFBA, após um ano afastada para pós-doutorado, me deparando com as dificuldades enfrentadas pelos alunos, tanto da graduação, como da pós-graduação, para deixar-se levar pelo ato da escrita, volto aos ensinamentos de Mário Osório. Ele entendia o ato de escrever como um ato inaugural, cujo maior desafio é começar. Depois disso, é deixar assunto puxar assunto, conversa puxar conversa, escrever puxar assuntos que puxam o reescrever. E assim escreve-se para pensar e para saber buscar novas leituras.
No entanto, nossos alunos não foram preparados para adentrar nessa fluidez. Ao longo de todo seu processo formativo ficaram amarrados às práticas repetitivas, ao que os autores dizem em seus livros e artigos (as famosas resenhas e resumos!), que acabam sendo, na maioria das vezes cópias das ideias desses autores. Onde fica a autoria de nossos alunos? Quando solicitados a escrever uma reflexão sobre uma ideia, uma questão polêmica, um conceito, um fato, não conseguem se desprender dessas amarras históricas, ou então, o máximo que conseguem é um pequeno parágrafo, muito tímido, que expressa mais o medo de se mostrar e se deixar perceber pelo outro do que as ideias, os argumentos, as relações que constroi.
Considero essa limitação problemática nos alunos de graduação, mas mais ainda nos alunos de pós-graduação, pois têm pela frente a escrita de uma dissertação ou de uma tese - como escrevê-las se ainda estão amarrados aos autores que lêem? Como se desvincular deles para transformar a escrita num ato inaugural e no princípio da pesquisa? Estamos investindo nisso - um grande desafio pela frente!

Sugiro a todos a leitura do livro de Mario Osorio Marques!

http://redesocial.unifreire.org/bonilla/blog/escrever-e-preciso

Ostra feliz não faz pérola - Rubem Alves


Ostras são moluscos, animais sem esqueleto, macias, que representam as delícias dos gastrônomos. Podem se comidas cruas, com pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos -, seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse, a sua sabedoria as ensinou a fazer suas casas, conchas duras, dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão...". Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda.
   Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava. Um dia, passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa.
   Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucubiram ao pessimismo. A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven - como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh, Cecília Meireles, Fernando Pessoa...

Disponível em: http://jeanete-rezer.blogspot.com/2011/02/ostra-feliz-nao-faz-perola.html

sábado, 5 de novembro de 2011

Tem Tudo a Ver - Elias José


A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
— é só abrir os olhos e ver —
tem tudo a ver
com tudo.
 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O teu riso - Pablo Neruda


O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


Pablo Neruda

http://www.fabiorocha.com.br/neruda.htm

Experiências de Vida e Formação - Marie-Christine Josso

Uhuuu! =D 
Após um tempinho de "abandono", voltei, enfim, a postar unas cositas pedafilosofantes... rsrs Durante esse período, novos horizontes foram vislumbrados, muitos sorrisos se me sorriram... :) A exemplo, o ingresso na pesquisa (PIBIC/CNPq) com o Projeto Tapiramutá/FEP, na UFBA. Dentre a rica bibliografia da Pesquisa/Projeto, encontrei uma obra ímpar, que muito me chamou atenção. Como não poderia deixar de compartilhar, segue abaixo indicação, para quem trabalha com a pesquisa auto-biográfica na formação de professores em exercício e para quem não se aguenta de curiosidade (epistemológica)...

Socorro Aparecida Cabral Pereira
Mestre em Educação
Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Marie-Christiane Josso é professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Socióloga e antropóloga, é doutora em Ciências da Educação, com uma tese intitulada Chaminer vers soi (Caminhar para si), publicada em 1991. É membro – fundador da “Associação das Histórias de Vida em Formação” (ASIHVIF) e é regularmente convidada a ministrar cursos em instituições públicas e privadas, ligadas à Educação e Saúde, na Suíça, França, Canadá, Portugal e Brasil, desenvolvendo sua abordagem de formação experiencial.
Em Experiências de Vida e Formação, a professora Josso apresenta-nos uma abordagem de formação baseada na descoberta e valorização da singularidade do sujeito. Traz a formação experiencial como um dos conceitos chave das Histórias de Vida em Formação, destacando a importância da narrativa neste percurso, pois ela permite explicitar a singularidade e perceber o caráter processual da formação e da vida, articulando espaços, tempos e as diferentes dimensões de nós mesmos, em busca de uma sabedoria de vida.
O livro encontra-se organizado em doze capítulos, ao longo dos quais Josso busca de acordo com uma abordagem fenomenológica, compreender como as pessoas se formam, rompendo com uma concepção de formação centrada apenas nas dimensões técnicas e tecnológicas. Os doze capítulos foram agrupados em três partes principais: a primeira retratando a importância da formação no centro das narrativas de vida, a segunda trazendo as histórias de vida como metodologia de pesquisa-formação e por último, a discussão sobre a contribuição do saber biográfico nos dispositivos de formação.
A primeira parte subdivide-se em três capítulos. O primeiro destaca as experiências ao longo das quais se forma identidades e subjetividades. Neste, a autora tenta demonstrar que a formação precisa ser trabalhada do ponto de vista do aprendente em interações com outras subjetividades. Discussão esta que é contemporânea, visto que a maioria dos programas de formação limita-se às dimensões técnicas e tecnológicas, necessitando assim de uma compreensão mais profunda dos processos através dos quais as pessoas se formam.
Após o primeiro capítulo do livro, a autora centra sua discussão na experiência formadora, destacando a importância de um trabalho reflexivo sobre o que se passou e sobre o que foi observado, percebido e sentido nos percursos de formação. Articulando experiência e formação, Josso destaca três modalidades de elaboração da experiência. A primeira que é “ter experiência” diz respeito a vivências de situações e acontecimentos que se tornaram significativos, porém sem termos provocado. O “Fazer experiência” relaciona-se às vivências de situações e acontecimentos que nós próprios provocamos. E o “pensar sobre as experiências” diz respeito a um conjunto de vivencias que foram sucessivamente trabalhadas para se tornarem experiências.
Ainda nos capítulos três e quatro, a autora nos alerta que o conhecimento de si mesmo não está relacionado apenas a compreensão de um conjunto de experiências ao longo da vida e sim a tomada de consciência de que este reconhecimento de si mesmo como sujeito, permite encarar o itinerário de uma vida. De acordo com as pesquisas desenvolvidas por Josso, destacam-se quatro buscas nas quais os autores dizem ter se empenhado ao longo da vida: a busca da felicidade, a busca de si e de nós, a busca de conhecimento e a busca de sentido.
Na segunda parte do livro, nos capítulos cinco e seis a autora relata a metodologia vivenciada na pesquisa formação, alertando-nos para o fato de que cada etapa da pesquisa é uma experiência a ser elaborada para quem nela estiver empenhado em participar. Na introdução do trabalho com as narrativas é apresentada à proposta e os caminhos intelectuais que deram origem às opções teóricas das autoras. Em seguida, na fase de elaboração da narrativa, cada participante expõe oralmente e escreve a sua narrativa. A terceira etapa caracteriza-se como fase de compreensão e interpretação das narrativas escritas, onde cada participante é convidado a apresentar a sua narrativa e a apropriar-se da narrativa do outro. O texto se processa demonstrando o poder transformador das narrativas de vida centrada na formação à luz de diferentes papéis desempenhados na sua construção e interpretação. Para a autora, o trabalho com a narrativa possibilita a passagem de uma tomada de consciência da formação do sujeito para a emergência de um sujeito em formação, possibilitando a reflexão critica sobre o itinerário experimental e existencial.
No capitulo VII - Caminhar com: interrogações e desafios postos pela pesquisa de uma arte de convivência em histórias de vida, a autora traz a discussão sobre a importância do caminhar para si como projeto de vida e da tomada de consciência da subjetividade. Figuras antropológicas como o amador, ancião, balseiro e animador são destacadas por Josso nas diferentes etapas do processo de formação. A autora compreende que para o caminhar com os outros, faz-se necessário um saber – caminhar consigo em busca de um saber viver. Assim, no capítulo oito é apresentado o conceito de experiência fundadora, como uma experiência maior que orienta o projeto de procura de uma arte de viver. No decorrer do texto,a autora qualifica sua proposta de pesquisa como pesquisa – formação, argumentando que na perspectiva desta abordagem, os resultados da pesquisa estão intimamente ligadas à qualidade das aprendizagens iniciadas ou aprofundadas pelos participantes no processo de formação.
Na terceira etapa do livro, a autora discute as contribuições do saber biográfico para a concepção de dispositivos de formação. Inicia o capítulo nove, alertando-nos sobre o choque da gestão da temporalidade sociopedagógica coma gestão da temporalidade sócio-individual. A autora constrói a sua crítica sobre o processo de aprendizagem, alertando-nos que neste percurso, precisamos desaprender para aprender – a. Assim a temporalidade da formação verbalizada e socializada numa narrativa de vida é o tempo de realizar uma tomada de consciência e de fazer um trabalho de integração e de subordinação que pode levar alguns minutos, algumas semanas, alguns meses, alguns anos ou até mesmo toda uma vida. Ao longo do capítulo dez Josso chama a atenção para a importância do seminário de “Histórias de Vida e Formação” tendo como foco a construção de pensamentos sobre si e sobre o outro. Destaca o distanciamento, a implicação, a responsabilização e a intersubjetividade como categorias importantes no processo da formação.
A discussão sobre o percurso de aprendizagem é apresentada por Josso no capítulo onze com a temática: formar-se quando adulto: desafios e riscos apostam recursos e dificuldades. A autora atrela o ato de aprender ao ato de pesquisar, pois acredita que este possibilitaria aos aprendentes o desenvolvimento da sua criatividade, habilidade, capacidade de avaliação, comunicação e negociação. Descreve o percurso de aprendizagem em três fases: iniciação, integração e subordinação.
Os projetos entre aberturas à vida e suportes imaginários de nossa incompletude, é a temática apresentada no capítulo doze onde a autora destaca a antecipação e a criatividade como noções subjacentes que permitem captar o lugar, o sentido e o estatuto epistemológico da noção de projeto.
Sem dúvida, a leitura deste livro fornecerá, substancialmente, aos profissionais interessados na formação de professores, a reflexão centrada na bagagem experiencial através da narrativa, desde que considerem o processo de formação como um processo de autoformação, hetero-formação e eco-formação.

terça-feira, 26 de julho de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Soneto de Camões




Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sou e ponto - Juliana Santos



Se arteira ou artista
não sei bem quem sou.



Se flor do campo lá na beira
percebida
ou não
nesse chão
tua brincadeira
imensidão...



Será que sou rima
ser que cativa
encanto
um sonho risonho
ou canto encantador?



Um exalar de alegria
frescor de saudade
aquela poesia
suavidade
ou o teu amor?



Ah! descrever-se é limitar-se...
Só sei que sou.
E ponto.

Ímpar ou ímpar - Paulo Leminski




Pouco rimo tanto com faz.
Rimo logo ando com quando,
mirando menos com mais.
Rimo, rimas, miras, rimos,
como se todos rimássemos,
como se todos nós ríssemos,
se amar (rimar) fosse fácil.

Vida, coisa pra ser dita,
como é fita este fado que me mata.
Mal o digo, já meu siso se conflita
com a cisma que, infinita, me dilata.



Este e outros poemas podem ser encontrados em: http://docecomoachuva.blogspot.com/ uma verdadeira fonte que transborda poesia e encantamento...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mariposas lilases - Roseana Murray




todas as doces pessoas que conheci
no meio-fio da vida
e que me escaparam das mãos
de uma maneira ou de outra
como um pássaro escapa
como um sopro escapa
de dentro dos ossos
voltem me enlacem me envolvam
me ajudem a suportar
o peso quieto das palavras
o rumor invisível das águias
por que se perderam de mim
essas doces pessoas?
tragam de volta seus rostos
como frutas de seda numa bandeja
como mariposas lilases

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mary Arapiraca, a rainha das palavras!

Hoje meu dia foi pura poesia...

Na foto, Mah, a Rainha e eu... lindas! :) 

Mesmo não fazendo parte da turma de Estágio 1 com a professora Mary Arapiraca, tal como uma formiguinha enxerida (risos) lá fui eu, assistir a primeira e, hoje, a última aula do semestre. Fui, pois, para completar o ciclo... como sugeriu Mah. E amei!

Esse momento, certamente, deveria constar neste espaço de construção do conhecimento que tem, por natureza, a suavidade da poesia.

Na aula com a Rainha passei por bosques, campos e jardins que exalavam alegria, luz, vigor e muita, muuuita poesia...

Com seu aprazível e cativante olhar, lá vem a Rainha a me dizer: "A vida não é aquilo que a gente viveu, mas é aquilo que a gente se lembra..." (Gabriel Garcia Marquez).

Como que em um transbordar da alma, a Rainha fez ainda ecoar os pensamentos de Saint-Exupéry, em Terra do Homens...

Ah! Rainha, como não fazer parte desse seu reino encantado...?

Quem é a Rainha e qual é o seu reino???
Logo explico: A Rainha é Mary e seu reino, as palavras.

Mah, obrigada pelo convite, pois já estava indo embora da facul!

Mary, agradeço o momento... Certamente, deste, sempre me lembrarei!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Poesia - Miguel Reale


A poesia é pena sem castigo
ou remorso sem sombra de pecado,
um amor solidário a toda gente
que dói desde a medula de teus ossos.

Poesia é um cantinho solitário
ou espuma de existência transbordante,
uma pluma que beija o cotidiano
ou uma chaga de luz não sei de onde.

Poesia é o caminho para o exílio
com saudade da terra de partida
quanto mais perto a terra prometida,

mas é também o derradeiro auxílio
que nos torna melhores de repente
ao percebermos que ela é a semente.
http://docecomoachuva.blogspot.com/2011/01/poesia-miguel-reale.html

O professor que odeia o livro

É considerado habilidoso aquele soldado que carrega rapidamente sua arma e em fração de segundos tem o inimigo sob mira certeira. Também é muito apto o trabalhador fabril que ajusta uma peça na velocidade correta, então deslocada na sua direção por uma esteira na linha de montagem. Velocidade e destreza, nesses casos, são essenciais. Essa velocidade e essa destreza, uma vez no campo da leitura, talvez sejam exigidas no e-mail e no twitter. Todavia, valem pouco para os intelectuais que, enfim, se alimentam antes de tudo do livro.
O livro é o campo do intelectual. Não é o campo do estudante que, enfim, é transformado pelos professores, quando muito, no soldado, no trabalhador fabril e no leitor de twitter. O estudante é tirado, pelo professor, da estrada que poderia transformá-lo em um intelectual ou, ao menos, em uma pessoa capaz de autonomia de julgamento. Vítima de pequenos textos em forma de cópia Xerox, o professor tornou-se alguém que perpetua a cultura da pressa e do acúmulo, tornando seu aluno igual a ele próprio, antes um meio leitor que um leitor.
Esse professor é um inapto. Mas o pior é que ele é um produtor de inaptos. Há muito ele caiu no conto de uma das vias da modernidade, a que confundiu rapidez com objetividade. No campo de batalha, o soldado que arma seu fuzil rapidamente e de modo mais veloz ainda tem o inimigo sob mira, recebe o nome de um “atirador objetivo”. De modo menos dramático é o caso do “jogador objetivo”, que finaliza bem e reduz o jogo todo a algo muito chato caso não exista o gol. Essa noção de objetividade desliza erradamente para a atividade do leitor e, então, qualifica o que é o “leitor objetivo”. Este, desse modo, é o que “vai direto ao ponto” no texto e não sucumbe às diversas possibilidades interpretativas. O que deveria ser uma virtude do bom leitor, que é justamente a capacidade de sucumbir às diversas possibilidades interpretativas, indo e vindo no texto, parando para repensar e fazer conexões próprias, agora é o comportamento condenado.
Nessa cultura que a filósofa Olgária Matos chama de o “vamos direto ao ponto”, as palavras subjetivo e objetivo perdem sua melhor significação. Subjetivo não é mais próximo de reflexivo e, sim, de confuso e lerdo. Objetivo continua a ser quase sinônimo de verdadeiro, mas não pela sua qualidade de independência e, sim, pela sua simplicidade e rapidez. Essa confusão de conceitos que criou o leitor de nossos tempos, o leitor não intelectual, é comemorada então pela universidade que abriga o professor inapto.
Esse professor começou sua carreira sem perceber que iria se tornar o que se tornou. Ele não se matriculou em um curso para ser imbecil, é claro. Mas ele não foi suficientemente esperto para escapar da tarefa que ganhou nos primeiros dias de aula, talvez bem antes da universidade, tarefa esta que ele, depois, passou a repetir com seus alunos candidatos a aleijões mentais. Foi lhe dado, logo no início de sua vida escolar, antes a tarefa de resumir textos e colocar “as idéias principais” que a tarefa de compreender o texto e expandi-lo por meio da imaginação, criação e busca de erudição. Assim, de resumo em resumo, no afã da atividade de tornar tudo menor, mais rápido e curto, ele acabou encurtando, verdadeiramente, sua inteligência. Ficou curto mentalmente. Nada lê para criar. Tudo lê para fichar. Até seu mestrado e doutorado foi feito assim, por meio de “fichamentos”. Ele até chegou a ler um manual de metodologia científica que aconselhava o fichamento! Ele se tornou, assim, uma pessoa limitada se sem a menor idéia do que é ser um leitor. Ganhou um “Dr” na frente do nome, que o legitimou nessa atividade que ele acredita que se encaixa na universidade perfeitamente. Exibe esse seu hábito de pegar atalhos, que o torna um símio, e é assim que se comporta: exibe seu método de “fichamento”, resumo, e leitura do crime do Xerox como o macaco exibe o pênis quando vê a fêmea humana.
Paro por aqui, pois já ultrapassei o tanto de linhas que os alunos desse professor conseguem ler. Eu disse os alunos, ele mesmo, o dito professor, parou bem antes, no segundo parágrafo. Esse tipo de professor se tornou um ejaculador precoce. Ele não leva adiante nada que ultrapasse uma lauda, e mesmo assim, às vezes não termina nem mesmo uma lauda uma vez que, precisando de dicionário, não o apanha na estante e tem preguiça de consultar o da Internet, aberta na frente dele.


Sobre leitura e sobre esse tipo de adorador do resumo, veja o vídeo aqui.