terça-feira, 31 de maio de 2011

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - Luís Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

domingo, 29 de maio de 2011

II Seminário Enlaçando Sexualidades

Entendendo a importância de participar dos mais variados eventos acadêmicos, procuro compartilhar, sempre que tenho conhecimento, informações sobre esses momentos.

Desta forma, segue mais um:



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Mediação Didática: ou isto ou aquilo!?

                                                                                                 Por: Leandro Almeida dos Santos
Na contemporaneidade, ou pós-modernidade vivencia-se um processo dinâmico em todas as esferas sociais, pois são descentramentos e deslocamentos os quais fragmentam as identidades que outrora eram tidas como fixas, sólidas, estáveis etc. Contudo, o que se percebe, em geral, são discursos muito rígidos, principalmente entre os educadores, ou formadores educacionais, que traduzindo para a linguagem coloquial são os “fessôres” e as “fessôras.”
Ao analisar as práticas pedagógicas no Brasil, vislumbrei os diversos “fessores/as” que tive durantes minha vida escolar, desse modo, pude perceber que apesar de muitos, mesmo que (in) conscientemente, levantarem bandeiras de práticas pedagógicas, eles eram ou são formados, em sua maioria, por um pouco de cada teoria.
“Ou se tem chuva e não tem sol,ou se tem sol e não tem chuva!”
Os jesuíticos... “Cala boca, menino!”; “Já lhe disse que não é assim, eu já ensinei o modo certo de fazer.” São expressões predominantes super cristalizadas por esses professores, desse modo, eu entrava na sala de aula com tanto medo que nem ousava a “respirar.” E tem mais, me sentava no fundão, pois realmente me sentia um aluno sem habilidades de encarar O PROFESSOR (detentor do saber). Graças a Deus, como sempre fui um aluno aplicado aos estudos, sempre ganhava uma atenção diferenciada desses. Disciplina e ordem eram as palavras fundamentais e indispensáveis nesse contexto.
 “Ou se calça luva e não se põe anel, ou se põe o anel e não se calça a luva!”
Nesse sentido, o porquê não criar uma nova escola, ou uma Escola Nova? Há uma tendência natural de que o novo, ás vezes, sempre vai de encontro com o que predominou, e nisso Anísio Teixeira fez muito bem, pois uma das suas ideologias principais era voltar às costas ao tradicional, clássico e velho e criar um espaço escolar-pedagógico novo construído pelo alunado. Minha fessôra dizia todas as aulas: “Vamos experimentar!”, e todos os meus coleguinhas ficavam felizes, afinal aula de Química sem cálculos, só experimentos no laboratório, era tudo de bom.
“Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares.”
Não podendo dissociar a educação dos fatos históricos, antes de detalhar a Tecnopedagogia (tendência que voltou com muita força, ultimamente, com o Ensino à Distância-EAD. Que em muitos casos o ensino faz jus ao nome, realmente o estudante fica distante do ensino de qualidade.), vale ressaltar que, esse tipo de mediação surgiu após a instalação do período ditatorial dos militares aqui no Brasil. Como nessa época a “voz” era algo que incomodava, pensou-se em evidenciar coisas que fossem controladas por eles (os militares), assim os recursos tecnológicos roubaram a cena. Acredito que você esteja se perguntando, cadê o professor? Pois é...  Também estou à procura dele! Os meios eram os divos do momento.
“É uma grande pena que não se possa. Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!”
“(...) Liberdade pra dentro da cabeça, liberdade pra dentro da cabeça (...)” Praticamente podemos inferir que a pedagogia pregada e defendida por Paulo Freire priorizava uma vertente libertadora, com isso confrontava-se com os conteudistas. Freire sugeriu uma nova postura dos professores em sala de aula, sendo a forma tradicional de arrumação das cadeiras sendo remodeladas para círculos, desse modo, colocando todos na mesma posição vertical, sentados e com possibilidades iguais de expressar-se. Então, percebe-se que a palavra dessa época era o DIÁLOGO, sim? Isso me fez lembrar as famosas aulas de História do Brasil no 2º ano do Ensino Médio, e já pegando o gancho das ideologias sócio-políticas e problematizadoras freiriano, por que Ensino Médio, hein? A pedagogia libertadora foi muito além de ato político, sobretudo era compreendida por ser um ato de amor, e amar é liberdade, será? Outra problematização...
“Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,  ou compro o doce e gasto o dinheiro”
Os mestres da Pedagogia histórico-crítica, risos, são os chamados revolucionários, que se por um lado assustam por objetivarem uma revolução social, por outro eles armam, vestem os estudantes menos favorecidos dos mesmos instrumentos dos das classes favorecidas. Essa pedagogia ganhou vulto em algumas universidades, ou melhor, ficou restrito às universidades. Nesse contexto, adequei os históricos-críticos a um trecho da música Pensamento do grupo Cidade Negra, “(...) e o pensamento é o fundamento, eu ganho o mundo sem sair do lugar (...) Acorda meu Brasil, com o lado bom de pensar (...)”, sendo que as transformações pretendidas no plano macro (socias) seriam possíveis, caso, primeiramente essas forem feitas no plano micro ( dentro de cada estudante, e nas salas de aula). Contudo, ficou uma lacuna no que tange a compreensão dos modos de aprendizagem das crianças.
“Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...  e vivo escolhendo o dia inteiro!”
Mediação didática da moda, o Construtivismo. Essa é a prática pedagógica mais utilizada ultimamente por escolas e educadores, pelo menos em seus discursos. Pretende-se associar o ensino-aprendizagem à ludicidade, o saber é construído na interação do professor (mediador) – objeto- estudante (mediado) = CONHECIMENTOS. A tarefa do mediador é instigar e provocar o mediado, sempre levando em consideração à bagagem de conhecimentos prévios do estudante, sendo os erros totalmente aceitáveis nesse processo de construção do saber. Acredito que, os educadores são inspirados na ideia de Rubem Alves, quando este renomado autor diz: “A tarefa do professor: mostrar a frutinha. Comê-las diante dos olhos dos alunos.  Provocar a fome. Erotizar os olhos, fazê-los babar de desejo. Acordar a inteligência adormecida...” Dessa forma, o professor faz parte do processo, contudo ele irá estimular seus alunos.
“Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo.”
Por fim, aproveitando o momento pós-moderno e da predominância do Construtivismo, com o intuito de provocá-los, cito e ratifico a Cecília Meireles:
“Mas não consegui entender ainda / qual é melhor: se é isto ou aquilo.”

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ariano Suassuna na UFBA!

Dramaturgo é autor de "Auto da Compadecida" e "A Pedra do Reino"
                 Dramaturgo é autor de "Auto da Compadecida" e "A Pedra do Reino"
O escritor Ariano Suassuna estará em Salvador para um bate-papo no dia 8 de junho, às 19h30, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Autor de "O Auto da Compadecida" e "Romance da Pedra do Reino", o dramaturgo, romancista e poeta brasileiro se apresenta pelo projeto Diálogos Universitários. O evento é gratuito, mas tem vagas limitadas. As inscrições devem ser realizadas no site
Diálogos Universitários (www.dialogosuniversitarios.com.br).

domingo, 22 de maio de 2011

Ou isto ou aquilo - Cecília Meireles



Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Sonho - Julio Cortázar

O sonho, essa neve doce
que beija o rosto, rói até que encontre
debaixo, suspenso por fios musicais,
o outro, que desperta.

Desejo de Flor - Vander Lee


As músicas/poemas de Vander Lee me fascinam... Com a exaustiva e agitada correria do meu semestre, suas canções acalmam e refrigeram, às vezes paro tudo para escutá-las. "Porque nada impede uma flor de querer o que eu quero..."

  Composição : Vander Lee
 
As flores vão nascer de amores
Vãos, viver
E ninguém vai poder mais amputar sua raiz
O galho que crescer
Os ventos vão reger
E quem sabe dançar a sinfonia os homens gris
Há margaridas bêbadas sobre os balcões
Damas-da-noite no calor de explosões
As flores vão nascer
Do querer, sem querer
Lá no sertão, no Paquistão, no coração mais infeliz
E por que não dizer
No vaso, no prazer
Lá no quintal, no Pantanal, no Rio e em Paris
Delírios sob a lava dos vulcões
Amorosas no entulho das construções
Porque nada impede
Uma flor de nascer
De um desejo sincero
Porque nada impede
Uma flor de querer
O que eu quero...
Delírios sob a lava dos vulcões
Amorosas no entulho das construções
As flores vão nascer
Do querer, sem querer
Lá no sertão, no Paquistão, no coração mais infeliz
E por que não dizer
No vaso, no prazer
Lá no quintal, no Pantanal, no Rio e em Paris
Há margaridas bêbadas sobre os balcões
Damas-da-noite no calor de explosões
Porque nada impede
Uma flor de nascer
De um desejo sincero
Porque nada impede
Uma flor de querer
O que eu quero

Software Livre: Softwares proprietários e suas alternativas livres


Os grandes softwares pagos são logo lembrados quando o assunto é pirataria, devido o seu alto preço esses softwares são grandes alvos da distribuição e da utilização ilícita.
Por outro lado, os softwares livres vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado como alternativa à pirataria e que mostram uma ideologia altamente condenada pelos grandes produtores de softwares proprietários. Entre eles estão softwares em grande ascensão como o navegador Mozilla Firefox, os sistemas operacionais GNU/Linux, o editor de imagens Gimp, o pacote de aplicativos OpenOffice, entre outros.
Que programa usar? Software proprietário e software livre, que alternativa?
Estas são as questões que se apresentam a muitos usuários.
O site OSALT contém uma extensa relação de diversos programas proprietários comuns e seus também diversos equivalentes softwares livres.


http://eticaprofissionalusc.blogspot.com/2010/09/software-livre-softwares-proprietarios.html

Antes de Virar Gigante - Marina Colasanti

No tempo d'eu menina
os corredores eram longos
as mesas altas
as camas enormes.
A colher não cabia
na minha boca
e a tigela de sopa
era sempre mais funda
do que a fome.
No tempo d'eu menina
só gigantes moravam
lá em casa.
Menos meu irmão e eu
que éramos gente grande
vinda de Lilliput.


In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993

Software livre - razões para utilizar


Software livre corresponde a programas de computador que oferecem liberdade ao usuário, no sentido de poder executar, distribuir, modificar e repassar as alterações. O indivíduo tem a liberdade de alterar o código fonte do sistema operacional, ajustando-o e aperfeiçoando-o de acordo com suas necessidades. Esse sistema é desenvolvido por uma comunidade constituída de colaboradores que desejam partilhar informações e aprimorá-lo, evidenciando sua característica de “colaboração”. Surgiu através das idéias e projetos propostos por Richard Stallman.

Em uma “Cartilha de Software Livre”, que informa sobre alguns projetos, são citadas 11 razões para se usar o Software livre. Estas por sua vez são:
  • Poder utilizar o software para qualquer finalidade.
  • Ter acesso ao código fonte e poder modificá-lo, sem quaisquer restrições.
  • Pode copiá-lo e executá-lo em quantas máquinas desejar.
  • Poder distribuí-lo, sem violar, é claro, essas liberdades a que todos têm direito.
  • Ter o seu computador equipado com software de qualidade a um custo baixo ou nulo.
  • Não ficar preso às restrições impostas pelas licenças de softwares proprietários.
  • Não ficar dependente de novas versões com preços abusivos que eventualmente apresentam incompatibilidades com versões antigas.
  • Ficar livre da pirataria.
  • Incentivar o desenvolvimento de tecnologia nacional.
  • Interagir e compartilhar soluções com sua comunidade, seja física ou virtual.
  • Lutar contra o monopólio de grandes corporações que buscam se apropriar do conhecimento intelectual coletivo.
O software livre é uma alternativa interessante e vantajosa, tendo em vista os inúmeros benefícios que o uso desse sistema pode oferecer. Inclusive, pode ser utilizado em instituições escolares por conta do baixo custo e livre acesso. Além disso, o software livre está presente em muitos projetos de inclusão digital, conquistando muitos adeptos com essa grande idéia livre e colaborativa.

Para mais informações sobre Software livre, acesse:
http://br-linux.org/faq-softwarelivre/

Verbo Ser - Carlos Drummond de Andrade


Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade


http://docecomoachuva.blogspot.com/

Obs.: Esse (acima) é "O Blog!" para quem ama a Poesia...

LIBRAS - O que é isto?

Língua usada pelas comunidades surdas brasileiras.Como toda língua,a Libras é composta pelos níveis linguísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas língua de sinais também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais.
A diferença é sua modalidade de articulação, a saber, visual-espacial, ou cinésico-visual, para outros.Assim sendo, para se comunicar em Libras não basta apenas conhecer os sinais. É necessário conhecer sua gramática para combinar as frases, estabelecendo comunicação.
Os sinais surgem da configuração de mãos, movimentos e pontos de articulação - locais no espaço ou no corpo onde os sinais são feitos, os quais, juntos compõem as unidades básicas desta língua.
Assim, a Libras se apresenta como um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Como qualquer outra lìngua, também existem diferenças regionais, portanto deve-se dar atenção às variações em cada unidade da Federação.

A Libras é composta de sinais e da datilologia
A datilologia, ou alfabeto manual, é um sistema de representação, quer simbólica, quer icônica, das letras dos alfabetos das línguas orais escritas, por meio das mãos. É útil para se entender melhor a comunidade surda, faz parte da sua cultura e surge da necessidade de contacto com os cidadãos ouvintes.

                        ALUNOS UNIFENAS - DISCIPLINA OPTATIVA

Os sinais são itens lexicais das línguas de sinais, assim como as palavras são itens lexicais das línguas orais-auditivas.
Os sinais são formados a partir dos cinco parâmetros:

● Configuração de mãos
● Ponto de articulação
● Movimento
● Orientação/ direcionalidade
● Expressão facial e ou corporal

A estrutura gramatical da Libras difere da estrutura gramatical da Língua Portuguesa .


Considerando que é uma língua visual, tem-se em mente o tópico conhecido como topicalização, ou seja, centraliza-se a idéia principal.

Exemplo: BOLO DE CHOCOLATE EU GOSTAR-NÃO 


O tal do “preconceito linguístico”

A autora do livro “Por uma vida melhor”, que foi distribuído pelo MEC recentemente, quer abolir o que ela chama de “preconceito linguístico”. Para tal, ela imagina que o melhor método é dizer que ninguém mais escreve errado, ou seja, que o “certo” e o “errado” devem ser abolidos da escola, em se tratando do uso de nossa língua. A intenção da autora é boa, mas o caminho que ela pega não é útil. E a sua inutilidade vem do uso pouco aconselhável que ela faz do termo “preconceito”.
Preconceito é, em grande parte, pré-conceito. Ou seja, formamos uma noção que não poderia ser chamada de conceito porque é o nosso entendimento apressado e falho de uma pessoa ou situação ou entidade etc. Assim, no caso imaginado pela autora, alguém que visse uma pessoa falando “nóis vortemo com uma baita di uma reiva”, poderia acabar por julgar a capacidade intelectual e, até mesmo, o caráter moral dessa pessoa por conta desse seu uso da língua distante do padrão da norma culta. Isso acontece? Ou é uma invenção da autora do livro? Acontece. E muito.
Como diminuir isso que a autora chama de “preconceito linguístico”? O primeiro passo é não tratar esse tipo de coisa como se fosse algo do mesmo tipo do preconceito contra a mulher ou o negro ou o gay. Essa é a confusão que atrapalha tudo.
Mulheres, gays e negros não vivem apenas segundo uma prática cultural feminina ou homoafetiva ou afrodescendente. Podem viver ou não. Mas, antes de tudo, são pessoas que estão para sempre no mundo como gays, mulheres e negros, mesmo que não se identifiquem com o conjunto de práticas sociais que caracterizam tais grupos. Não há nada de errado em ser o que se é. Quem é mulher é mulher, quem é negro é negro e quem é gay é gay. Desde o negro (ou da mulher ou do gay) que é completamente integrado em práticas que denotam o que se pode chamar de “consciência negra” ao negro que é negro exclusivamente pela cor da pele (e não por adesão a práticas culturais quaisquer), há um ponto em comum: o olhar do outro o vê como negro. E se o olhar do outro acredita que está vendo alguém “errado” por conta de ser negro, o olhar do outro está contaminado por um preconceito, provavelmente um pré-conceito. Nada disso se aproxima do caso da vítima do que a autora do livro em questão chama de “preconceito linguístico”.
Quem usa a língua fora do padrão da norma culta pode expressar uma cultura particular. É o caso das músicas do gênio Adoniran Barbosa, por exemplo. Mas, para que possamos considerar o Adoniran um gênio, temos de ter a garantia de que uma boa parte do nosso povo se expresse correntemente na norma culta. É a existência da norma culta para a maioria que faz com que possamos olhar para o uso da língua do “boêmio meio analfabeto da noite paulistana” como sendo algo do gênio. Em uma São Paulo que não tivesse pessoas bem escolarizadas, em boa quantidade, e falando a nossa língua segundo a norma culta, Adoniran teria divertido muitos, as suas músicas seriam cantadas e curtidas, é claro, mas ele jamais seria considerado um gênio. Cito esse exemplo para mostrar que a cultura que segue a norma culta é que é capaz de apreciar, sem preconceito, o uso de nosso idioma sem levar em conta a norma culta. Portanto, se a autora de “Por uma vida melhor” autoriza as escolas, direta ou indiretamente, a baixar a guarda diante do uso da norma não culta, confundindo os professores sobre “o certo e o errado”, ela acaba tirando da jogada o que queria preservar: a cultura que não segue a norma culta. Ela destrói o que queria proteger.  Ela fere os bastiões de valorização da norma não culta, que são criados pelos que sabem o valor da norma culta.
O problema, portanto, está na naturalização do uso da língua fora da norma culta. Falar “nói num semu tatu” seria natural, faria parte da pessoa, teria de ser respeitado: respeitando essa fala, estaríamos sem preconceito! Mas as coisas não são assim. Não é nada bom tratarmos o usuário de “nói num semu tatu” como quem pode sofrer discriminação e, então, colocá-lo no atual rol dos discriminados sociais, os que sofrem a partir de preconceitos. Isso lhe daria direitos de “oprimido” para além dos males causados pela opressão contra ele. Isso naturalizaria uma prática nada natural. Quem fala sem a norma culta, se é desrespeitado por isso, antes de tudo precisa ter claro o seguinte: no Brasil, posso (ou deveria poder) sair dessa condição em pouco tempo, basta eu aprender a falar corretamente, uma vez que não sou o Adoniran Barbosa e, portanto, não conseguirei ir muito adiante com essa minha fala.
Ninguém tem de aprender a não ser negro, gay ou mulher. Mas é possível aprender a norma culta de um modo, inclusive, a depois avaliar sem qualquer mágoa aqueles que ainda não aprenderam a norma culta. É possível aprender a norma culta para, inclusive, proteger a cultura que não segue a norma culta. Pois dominar ou não dominar a norma culta não é da ordem da natureza, mas da cultura – e a cultura engloba culturas, no plural. Quem não tinha a norma culta e a aprende, não perde a cultura que um dia foi a sua própria, a que incluía falar como o Adoniran. Ao contrário, aprende os mecanismos pelos quais é possível ver tudo e mais um pouco do que Adoniran realmente foi.
Nesse sentido, o que o governo deve fazer não é o incentivo de livros que confundem a vida escolar, mas pagar melhor os professores e lhes dar condições de trabalho para que possam dar o melhor ensino nas escolas públicas. A escola pública tem de ensinar o que fez Adoniran Barbosa e ao seu lado a norma culta, mostrando as diferenças e os ganhos de cada tipo de cultura. A escola pública não ganha nada se os seus livros, ao invés de fazerem isso, se perdem nas antigas confusões avaliativas, as que não sabiam dizer para o professor que ele pode e deve utilizar da boa ideia de dizer, sim, “certo e errado”.

© 2011 Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ.

Escrevi outro texto sobre o uso da norma culta, não motivado pelo livro em questão: Norma culta, o certo e o errado são relativos e válidos.

terça-feira, 10 de maio de 2011

SEMINÁRIO LITERATURA INFANTO-JUVENIL


ONDE: Auditório do PAF III - UFBA (Campus de Ondina) - Salvador/BA

QUANDO: 19 de maio

PALESTRA E MESA DE COMUNICAÇÃO

HORÁRIO: 9h às 17h

Inscrição Gratuita:

mandar e-mail para:literaturainfjuvenill@gmail.com

Organização:

Grupo de pesquisa EtniCidades: escritoras/es e intelectuais negras/os 
e afrolatinas/os

domingo, 8 de maio de 2011

Livros e flores - Machado de Assis


Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

              

Eu não sou você. Você não é eu. - Madalena Freire


Eu não sou você
Você não é eu.

Mas sei muito de mim
Vivendo com você.

E você, sabe muito de você vivendo comigo?

Eu não sou você
Você não é eu.

Mas encontrei comigo e me vi
Enquanto olhava pra você

Na sua, minha, insegurança
Na sua, minha, desconfiança
Na sua, minha, competição
Na sua, minha, birra birra infantil
Na sua, minha, omissão
Na sua, minha, firmeza
Na sua, minha, impaciência
Na sua, minha, prepotência
Na sua, minha, fragilidade doce
Na sua, minha, mudez aterrorizada

E você se encontrou e se viu, enquanto olhava pra mim?

Eu não sou você
Você não é eu.

Mas foi vivendo minha solidão que conversei
Com você, e você conversou comigo na sua solidão
Ou fugiu dela, de mim e de você?

Eu não sou você
Você não é eu.

Mas sou mais eu, quando consigo
Lhe ver, porque você me reflete
No que eu ainda sou
No que já sou e
No que quero vir a ser…

Eu não sou você
Você não é eu.

Mas somos um grupo, enquanto
Somos capazes de, diferenciadamente,
Eu ser eu, vivendo com você e
Você ser você, vivendo comigo.